Toca o despertador, levanto-me como que pressionada a isso, encaro um novo dia… Despertei de um período surreal mas com algum poder psicológico e tocante… Porque realmente ele toca-nos muito quando, de repente, ao comprar o bilhete de autocarro, nos lembramos do quão bom ou quão mau seria se aquilo fosse efectivamente real… Como se tudo o resto à minha volta não existisse fico incrédula e com o dinheiro na mão, enquanto o condutor olha para mim e diz insistentemente “Menina? Menina?”, e, despertando de um outro período de reconstituição de ideias, peço desculpa pela minha reacção…ou falta dela!
Que se passou comigo naquele momento? Por que fiquei eu assim? Por que fiquei pensativa ao ponto de me submergir no meu poder interior e inato? Que sensação estranha… Parecia real… Mas não era… O tempo tinha mesmo passado, o terror tinha mesmo acontecido e permanecera no meu pensamento para sempre… Porque o que realmente nos toca fica para sempre e reaparece a qualquer momento, em qualquer circunstância, de qualquer modo, sem restrição ou problema.
É ou não verdade tudo isto? Quantas vezes pedimos para retroceder no tempo? Quantas vezes erramos sem nos apercebermos? Quantas vezes somos cruéis para nós próprios? Mesmo que conscientemente saibamos que não temos culpa do que acontece…! Mas porquê? Já estaria escrito que seria assim que teria de acontecer? Já estaria aquela linha traçada? Aquela linha à qual os sábios chamam de destino… Mas afinal o que é isso? O que é a alma? O que é o desespero? O que é a mágoa? O que é o erro? E…o que é o sonho? O que é isso? Porque tem ele tanto efeito em mim? Porque me toca tanto ele? Porque passo o dia a pensar na noite e a noite a sonhar com o dia? Andarei descontrolada ou será este o destino de pessoas como eu? Erro na vida quando lhe peço para ir, pela primeira vez, ao supermercado. Ele diz-me que tem medo mas eu insisto com ele… Para que ele se desenvolva… Mas oiço uma travagem brusca de repente…
Meu Deus! Que situação inacreditável…em milésimos de segundos, encontro-me no hospital a receber aquela informação arrepiante do médico principal… Sem reacção, caem-me as lágrimas e um muro sobre mim, pois a culpa tinha sido minha…
Mas porquê isto? Como é possível se eu nem um irmão mais pequeno tenho? Porque sonhei eu isto? Estranho como os sonhos nos fazem reflectir na realidade em que se vive… Sim, foi um sonho… não houve o atropelamento que na minha mente existiu…
Eu não sei como a maioria das pessoas é, mas sei como eu reajo ao sonho, ao pesadelo… Parece uma realidade, um tormento que não acaba, um sentimento inexplicável!
Cheguei ao destino e tive mais um dia de aulas, mais um dia a passar e mais uma noite a regressar… Que sonharei desta vez? Que ocorre na minha mente neste momento? Que se está a processar cá dentro? O terror tinha mesmo acontecido…mas onde? No meu poder de imaginação ou no meu poder de construção de sonho? Eu sei que aprendo com ele…apesar de por vezes ser capaz de me paralisar!
Novembro de 2009
Eu tenho uma irmã mais nova. E uma noite também sonhei que ela tinha sido atropelada, à porta da escola. Quando acordei, nem eu imaginava que já não tinha uma irmã mais nova. Quer dizer, ter tinha. E tenho, sempre. Apenas está longe.
ResponderExcluirSabes Selma, sonhos são aqueles que nós concebemos quando olhamos para algo e dizemos "Eu quero isto". E são esses os sonhos pelos quais nos devemos reger. Não aqueles que o nosso inconsciente nos cria enquanto dormimos, por mais que nos toquem.
E não faço a mínima noção de porque é que escrevi isto tudo, mas pronto. É uma partilha :)