quarta-feira, 13 de outubro de 2010

As sensações do arrependimento

De que cor é o meu pensamento? Que odor tem a minha tristeza? Que objecto simboliza a minha alegria? Que sensação causa a minha reflexão? Que sentimentos são reflectidos pela minha mente? E que sabor tem o meu arrependimento?
Que cor tem a noite? E que cor tem o dia?
 Todos nós associamos o preto à noite; mas porquê? E porque associamos ao dia o branco? Porque sorrimos quando estamos felizes e choramos quando estamos tristes? Porque corremos quando queremos muito alcançar algo e caminhamos lentamente quando sabemos que nos aproximamos do abismo?
Inexplicáveis atitudes, não vos parece? São axiomas e, assim sendo, inquestionáveis.
E quantas vezes somos igualmente alvo de dúvida? Isto é, quantas vezes alguém questiona algo sobre nós a nós próprios ou a outras pessoas? Todos somos criticados, quer façamos isto quer aquilo. Todos temos defeitos, todos nos interrogamos, todos corremos por algo que queremos alcançar, verdadeiramente, e fugimos ou abrandamos à chegada ao indesejado… Quantas vezes temos vontade de fugir para não enfrentar isto ou aquilo? E quantas vezes o fazemos, efectivamente? Agimos como um caracol, que se esconde na sua casinha, fraco e inofensivo; agimos como criminosos. Devido a quê, afinal de contas?
Todos nós já nos arrependemos de algo que fizemos, com toda a certeza… Todos nós já tivemos vários momentos em que retroceder no tempo era um desejo enorme e, simultaneamente, irreal…
Que cor tem o arrependimento? E a que sabe este? Qual a sua rugosidade? Como ouvimos ou sentimos o seu cheiro?
Quando li o livro de José Saramago intitulado Ensaio sobre a cegueira retive uma frase sentimental, arrepiante e chocante… passo a citá-la: “ (…) se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar.”; acrescenta ainda: “Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, (…)”.
Quem não sente medo em determinados momentos da vida? Quem não tem dúvidas em determinadas alturas? Quem é que não se precipita em certas horas, sem pensar no que advirá? Mas isso é o normal das coisas, dos factos, da existência, da vida… De que adianta o martírio pessoal? De que adianta o sentimento de culpa?
Tal sensação não se controla, não é? Mas então, quem tem o controlo sobre cada um e cada qual? Para que existimos? A verdade é que não podemos viver, constantemente, numa postura baseada na culpa, na angústia, no desespero, na sensação de pecado! A força tem, obrigatoriamente, de fazer parte de cada um… Que seria de nós sem tal poder? Quanto mais sensibilidades se ultrapassarem maior o revestimento de cada pessoa…
Eu sou forte, tu és corajoso, ele é destemido… Nós somos capazes, vós sois aptos e eles são revestidos com uma cobertura chamada de amabilidade e valentia…


3 comentários:

  1. Todos temos medo. Imenso medo. Todos temos traumas, todos temos segredos, todos preferimos por vezes fugir a enfrentar. Todos temos as nossas dores, os nossos momentos, as nossas loucuras e os nossos vícios. Todos somos criticados, mas também todos criticamos. Somos assim, uma moeda de duas faces.

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  2. O ser humano é um ser insatisfeito .. Pode alcançar sempre o que desejou mas desejará sempre outro mais ..
    E a vida é uma incógnita que nos faz perder a noção do que realmente cá fazemos e do que realmente queremos

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  3. ... e o pior em tudo isto é quando não se olha a meios para atingir fins...

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