Cores, sons… Imagens, sensações… Sentidos, é disto que se trata…
Vejo muitas cores, ouço diversos tipos de som, sinto que não devia sentir… Sinto que não sinto o essencial… Já vejo movimentos, reviravoltas, piruetas no ar! Vejo cor, mas desta vez muita cor, e oiço muito alto! As piruetas aumentam, a excitação demonstra-se, a luminosidade ilumina tudo… tudo menos a mim… Eu vejo cor, mas não me sinto colorida… Muita cor, agora!
Sinto-me como uma criança no primeiro dia de escola… E por momentos revivi a minha entrada nela… Revivi a noite em que chorei desesperadamente… Com medo de falhar? Com medo que falhassem comigo? Com medo do que me esperava? Com medo da mudança? Simplesmente com medo… Com um vazio dentro de mim…
Lembro-me como se fosse agora, da minha mãe sentada do lado de lá da cama e comigo entre as pernas… A minha irmã também lá estava, ora sentada na cama, ora de pé… Ora séria, ora a rir-se da situação… E eu, pobre de mim, naquele momento chorava sem fim…
Lembro-me da minha primeira mochila e do quanto gostava dela… Era azul e tinha representado os 101 dálmatas! Oh, como gostava daquela mochila… Lembro-me de sair de casa com ela às costas e lembro-me de entrar na escola… Lembro-me, como se fosse agora, que era pequenina… Tão pequenina que o professor agachado ficava da minha altura ou ligeiramente mais baixo… Tinha barba meia branca, meia escura… Tinha carinho, eu lembro-me disso! Gostava dele, gostava muito dele…
Se era feliz? “Era feliz sem saber”… Mas agora sei que o era…
Ai, o som continua, e cada vez mais forte, cada vez mais vincado, cada vez mais frequente e cada vez mais penetrante! Sentia-o além, agora sinto-o aqui! Vou ver! Tons de bege e agora… muita luz! Um grande clarão entra pela minha janela e ilumina a minha sala… É o arraial, é o arraial de cores e de sons…
Cessou… Cessou como tudo o que acontece nas nossas vidas… Cessou deixando um rasto… Um rasto que permanecerá por longos tempos…