sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Porque é capaz de ser o melhor que temos


Estava uma noite tranquila. As estrelas sobressaiam no céu negro e completamente limpo. A lua? Essa estava cheia e com um brilho especialmente notório. A temperatura que se fazia sentir era mesmo propícia a uma saída de casa, com direção a uma esplanada com vista privilegiada para o mar. Sentir a brisa no rosto, sentir a brisa na pele, sentir a liberdade, sentir aquela noite, mesmo que o tivesse de fazer sozinha.
            Já sentiram uma espécie de vontade dicotómica? Aquele sentimento de que “devia mesmo sair… devia aproveitar este maravilhoso tempo” e, por outro lado, “ai, quero tanto ficar em casa, no meu sofá, a fazer zapping até achar o filme perfeito para mim, neste preciso momento…”.
            De repente, decide deitar-se no sofá. Não estava com paciência para se arranjar; não sentia força nem para puxar uma almofada, de forma a sentir-se mais confortável, naquele sofá que daria muito bem para mais uma pessoa.
            Dá por si a chegar ao canal 80, sem se aperceber que tinha passado pelos canais da Lusomundo, onde normalmente encontrava algo que a prendia ao ecrã. Afinal, tinha passado praticamente todos os canais que a interessavam e nem se tinha apercebido de tal facto!
            Repentina e decididamente, levanta-se do sofá, apaga a televisão, acende o rádio, aumenta o volume e encontra forças para se arranjar. Olha-se ao espelho, agrada-lhe minimamente o que vê. Troca a imensidão de coisas que tem na bolsa que usara naquele dia para uma outra que condizia melhor com a roupa que decidira usar, para aquela ocasião.
            Fechou a porta e decidiu caminhar pelo passeio paralelo à praia, na expectativa de chegar àquele café onde, outrora, tinha encontrado aquele que achava ser o homem da sua vida. Depois de andar cerca de 2 km, olhou aquela cadeira… A mesma cadeira onde ele lhe fez o pedido que mais a embaraçou, na sua vida… A mesma cadeira que a fez sorrir e chorar, simultaneamente…
          Ele estava lá! Novamente, ele estava sentado naquela cadeira!
          Não consegue parar… As pernas continuam o movimento coordenado que a levara até ali.
          Perdeu a oportunidade de estar com ele… Perdeu a oportunidade de falar, novamente, com ele… Perdeu a oportunidade de conviver, por breves minutos que fossem, com aquele homem… Mas a imaginação? Essa ela teve-a até ao momento de chegar a casa, depois de percorrer novamente os quilómetros que tinha feito até então. Porque a imaginação é capaz de ser o melhor que temos! Isso, ninguém pode sequer tentar tirar. E ainda bem… Porque nenhum momento acaba indiferente quando esse mesmo é regado e alimentado o suficiente.
Naquela noite, a imaginação fez dela a mulher mais feliz do mundo!

 


sábado, 21 de julho de 2012

"Lembra-te de o esquecer..."


“Consegues sentir?”
“Seria impossível não o conseguir…”
Sabem aquele abraço que quando surge é uma espécie de lufada de ar fresco, após uma prisão num local fechado e escuro? Conhecem aquele sorriso que nos impede de desmoronar e desistir? Reconhecem aquele olhar que nos impede de cair, que nos mantém fortes, suportados em nós próprios, apesar das adversidades?
“Estás mais linda do que nunca… Que saudades eu tinha tuas…”
“Que aperto sentia sempre que te visualizava mentalmente! Que saudade sentia…”
Era um dia quente! O sol brilhava por entre as nuvens que teimavam em surgir, esporadicamente, e o som natural que se fazia ouvir transmitia uma tranquilidade imensa.
“Tanta coisa que gostaria de dizer, mas as palavras faltam-me! Que faço contigo?”
            E quando esperamos anos por um momento? E quando ansiamos um encontro mais do que alguma vez poderíamos achar que ansiaríamos algo?
            “Também não sei que faça com tanto amor! Com tanta vontade de te abraçar, contínua e permanentemente!”
            Aquela nuvem tentava escurecer o céu azul… O vento que mal se fazia sentir começou a mostrar o seu poder, e aquele silêncio passou a ser afetado pelo ruido da agitação que se começava a enaltecer.   
“Já reparaste? Só por ti ele bate desta forma… Só por ti ele anseia dia após dia, hora a hora, minuto após minutos, segundo a segundo… Só por ti estou aqui! Não avistava hora de tal momento surgir… Mas lembra-te, quando te sentires pequena, imagina-te ao lado daquela flor, que mesmo ínfima, consegue ser maravilhosa. Aí vais perceber, realmente, o quão grande e deslumbrante és! Apenas te peço mais uma coisa em relação a este mágico instante… lembra-te de o esquecer…”
“Mas…”
“Só assim conseguirás ser verdadeiramente feliz…”





sexta-feira, 29 de junho de 2012

“Pode ser concertado…”

Sentada na areia, olha o mar deslumbrante… Sente o ar fresco e ouve aquele som que mais a tranquiliza.
Um vazio! Subitamente, é o que sente! Finalmente uma paz a contempla, a invade, a circunda, a atravessa profunda e fortemente.
Nada a impedia de estar tranquila, naquele momento! Nada a proibia de sentir a maravilha daquele instante, a sensação de liberdade, de independência, de invisibilidade.
No meio de toda a abstração, sente o telemóvel tocar. Não lhe importa… “Se for importante, que liguem mais tarde”, pensa.  
Os pensamentos, por momentos, não a atormentam, e sente uma paz interior que há já muito não sentia. O telemóvel volta a tocar… Mesmo assim, não quer que nada lhe estrague aquele momento. Rejeita olhar o visor. Ao invés disso, levanta-se e caminha em direção às ondas calmas, curtas e pacíficas…
Sente a frescura da água do mar nos pés, molha as mãos e de seguida a face, como que se ao passar aquela água na cara, todos os problemas ficassem para trás… Como se aquele momento conseguisse apagar tudo o que estava para trás das suas costas… Como se aquele gesto a fizesse reviver tudo, mas de maneira diferente!
Caminha e sente os problemas voarem em sua direção. As lágrimas confundem-se com a água também salgada, e toda ela se sente derrubada e a desfalecer cada vez mais.
Sente a vibração sob os seus pés e, involuntária e subitamente, vira-se…
“Disseste que o tempo curava tudo…”
“Que fazes aqui?!”
“Que importância isso tem?”
“Como me encontraste? Como soubeste onde eu estava?”
“Não atendeste o telemóvel… Onde mais poderias estar?”
“Porque vieste até aqui?”
“Isso não importa! Porque me mentiste?”
“Desculpa se o tempo não curou algo que foi mal remediado…”
“…Mas pode ser concertado, agora…”
Aquele sopro, aquela imensidão… Aquele momento em que tudo passa a fazer sentido…


sábado, 5 de maio de 2012

Aquela sensação...

Ela deixa de insistir em adormecer. Abre os olhos, acende a luz do candeeiro, retira o lençol que a cobre, sente o chão frio e decide caminhar até a sala. Abre aquele móvel onde contém tudo e mais alguma coisa no que diz respeito a recordações. Fotografias, textos redigidos em momentos melhores e em momentos menos bons, objectos fortes ao nível emocional, pétalas de ramos de rosas oferecidos outrora (dá por si a pensar, momentânea e espontaneamente, se não seria preferível ter guardado os espinhos), bilhetes de cinemas e de concertos nos quais ela se fazia acompanhar por ele, CD’s com as bandas sonoras ouvidas em momentos pontuais, oferecidos como forma de demonstração do quanto aquelas músicas os remetia para momentos únicos e inexplicáveis.
          Pega num monte de fotografias soltas e começa a retirar de cima, a ver, a colocar por baixo; visualiza uma outra foto, procede de igual forma; em seguida outra, e outra, e outra… Dá por si a relembrar, em poucos minutos, uma série de anos… Dá por si a imaginar como seria se ainda agora estivessem juntos… Dá por si a pensar no quanto ridicularizava sempre que sabia que havia uma amiga mais próxima dele, sempre que havia um telefonema mais demorado, sempre que ele demorava mais a chegar ao pé dela, sempre que ele adormecia sem lhe ligar ou mandar uma mensagem. Dá por si a imaginar cada toque, cada gesto, cada sussurro, cada olhar, cada aproximação, cada desvaneio, cada loucura, cada surpresa, cada movimento, cada desvio, cada “saída de entre as linhas”, cada sopro, cada beijo. Dá por si a imaginar cada traço do seu rosto, cada segundo em que aquele perfume a enlouquecia, cada suor obtido, cada som emitido.
          Sente um arrepio. Emocional? Talvez, mas opta por esconder de si própria tal reacção e volta ao quarto, pega na sua manta, embrulha-se a ela, inspira fundo e liberta, agressiva e impulsivamente, o ar inspirado. Dirige-se, de novo, para a sala e tenta libertar os pensamentos, tenta abstrair-se do que a rodeia, mentalmente, naquele momento. Tenta abstrair-se do tempo que passou e direcciona-se, psicologicamente, para aquilo a que todos chamam de futuro! Não consegue prevê-lo e muito menos consegue sentir o presente, de forma que decide sentar-se no sofá. Encosta-se, fecha os olhos por cinco segundos e volta a abri-los.
Arrisca convencer-se de que já não está a pensar em nada, de que já não idealiza nada, de que já está reconfortada. Separa os lábios e quebra o silêncio: “Sonho tanto com o dia em que vou sentir e dizer, decidida e definitivamente, a alguém «És tudo o que eu quero na vida»…”.
Solta um sopro… Aquela sensação de que ninguém a fará sentir isto…


domingo, 22 de abril de 2012

Caminhos Cruzados

“Despacha-te! Depois não tenho tempo para ver nada de jeito!” “Calma… Mas se tens assim tanta pressa, vai sozinha!” “Deixa-te de coisas e despacha-te!” “Mas, realmente, tenho tanto para fazer… Podias ir sem mim… Era um favor que me fazias…” “Não adianta… Despacha-te, mas é!”
Por vezes, uma atitude tem tanto significado… Não nos apercebemos daquilo que um simples passo pode significar numa vida, em duas vidas… Respiramos, andamos, corremos, fechamos uma porta, dirigimo-nos para a direita, ignoramos o lado oposto, paramos por uns minutos, seguimos impreterivelmente em frente, ficamos em casa, saímos, sem pensar no que aquela simples atitude pode fazer com um ser.
“Vamos lá então! Estou pronta…”
Saíram de casa e dirigiram-se à maior sapataria que conheciam e à qual já não iam há imenso tempo. Ela precisava mesmo de comprar aqueles sapatos maravilhosos.
“Não os estou a encontrar! E agora?”
E quando estamos em dúvida em tomar uma ou outra atitude e, depois de tomar a atitude escolhida, pensamos: “Ainda bem que o fiz!”? E quando, sem mais nada, nos levantamos do sofá, pegamos na chave de casa, abrimos a porta, saímos, fechamos a porta com força superior àquela exercida aquando da sua abertura, e vamos até aquele lugar mais reconfortante? E quando, sem nos apercebemos, estamos a modelar aquilo a que chamamos, destemidamente, de destino?
“Eu disse que devíamos vir mais cedo! E agora? Eu tenho de os encontrar!”
Dirigimo-nos àquele lugar tranquilizante e parece que temos uma lufada de ar fresco… Parece que aquilo que, frequentemente, chamamos de alma rejuvenesce!
“Espera, eu vou procura-los ali ao fundo… Ou vou perguntar… Espera.”
“Desculpe…” E, de repente, o mundo cai! Tudo parece deixar de fazer sentido… As palavras ficam-se pela intenção e, de repente, dá por si a corar, inevitavelmente.”
“Tu?”
E quando encontramos alguém que não vemos há anos? E quando encontramos alguém que fez mais estragos que maravilhas? E quando encontramos alguém que muito significou na nossa vida?
“Em que posso ajudar-te?” Ela pensa: “já não me podes ajudar em nada! Agradecia que nunca tivesses tentado fazê-lo… Se assim fosse, neste momento estaria muito melhor.” Em vez disso, abre a boca e diz: “Em nada… Obrigada!”
Ele quer dizer-lhe para esperar mas, em vez disso, continua a tarefa interrompida por aquela que sempre foi… por aquela que sempre foi a mulher da sua vida…
“Encontraste?” “Sim, encontrei aquela que foi a minha maior desilusão! Por favor, vamos…”
Caminhos cruzados e… destraçados! 


sábado, 31 de março de 2012

Um Adeus...

Sabem aqueles momentos em que o peito não se enche de ar? Aqueles dias em que queremos abrir os olhos e não conseguimos? Aqueles segundos em que queremos mover um membro e não temos força para tal? Aquele instante em que queremos estar em silêncio profundo e aquele ruidinho nos distrai daquele que seria um momento de distração?
Sabem quando sentimos necessidade de esquecer tudo à volta e centralizar a atenção no nada? Quando olhamos o sofá e apenas nos apetece tirar tudo o que sobre ele está e estendermo-nos por completo? E quando queremos apenas sentir que a felicidade está próxima?
Porque há momentos em que tudo parece fazer sentido, ao contrário daqueles em que a vida parece um puzzle com milionésimas peças… Ao contrário daqueles momentos em que nos sentimos perdidos sobre tantas e numerosas estruturas idênticas!
Hoje, ela atrasou-se. Atrasou, não por culpa própria, mas porque dependia de terceiros.
O sol brilhava, o calor apertava, os pensamentos surgiam fluentemente e ela pensava em tudo, menos naquilo que, naquele momento, efectivamente, deveria de contar. Subitamente, esquece todas as responsabilidades que tem, naquele dia, apanha o metro e dirige-se ao local onde mais calma se sentia… Dirige-se àquela praia que a tranquiliza e começa a imaginar os momentos que por lá passava, acompanhada… Recorda os abraços que ele lhe dava… Recorda os momentos felizes, empolgantes, comoventes, agitados e, simultaneamente, calmos e serenos. Recorda tudo o que a fazia feliz e tudo o quanto a rodeava quando tudo, sem sombra para dúvidas, parecia correr bem.
Sente a areia que, em tempos, rodeava o corpo deles… Sente no rosto aquela brisa refrescante… Sente aquele ambiente maravilhoso… Sente a sua presença… Mas não, não podia ceder!
Da mesma forma que decide dirigir-se àquele local, decide abandoná-lo. Levanta-se, roda o corpo e dirige-se à berma junto à praia.
“Por aqui?”
Nesse instante, o coração parecia parar, os pulmões pareciam esvaziar-se… Mas nem uma palavra… Nem um sopro…
“Espera! Muita coisa ficou por dizer!”
O nervosismo, a ansiedade, a dicotomia de sentimentos fá-la correr para a outra berma!
“Não te deixo ir sem que te justifiques!”
E, em forma de desabafo, desune os lábios e discursa fluentemente: “Preciso voar! E quem diz voar, diz nadar, diz caminhar, diz correr, diz divagar, diz desaparecer e aparecer num ápice, diz morrer e ressuscitar, diz dormir e acordar, diz sorrir e chorar… Preciso olhar! E quem diz olhar, diz cheirar, diz sentir, diz saborear, diz ouvir! Preciso de respirar! Preciso de viver! E contigo? Já não tenho nada disto…”
Um vazio… Um desabafo… Um adeus… Um eterno adeus…



terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Efémero aconchego

Estava um dia de sol mas, apesar disso, o frio fazia sentir-se. Por isso mesmo, ela vira-se obrigada a vestir uma camisola de lã e a abotoar um casaco! Não havia qualquer nuvem sobre o céu azul, não havia qualquer indício de que o tempo iria transformar-se, em contrate com a forma como ela se sentia.
E se, de repente, nos víssemos obrigados a reter as lágrimas, quando elas mais tendem a cair? E se tivéssemos de fazer um tremendo esforço para não mostrar a quem está connosco que, realmente, estamos num dia, de todo, mau? E se quiséssemos ser fortes e não conseguíssemos, de qualquer forma? E se tivéssemos de demonstrar força e, efectivamente, não conseguíssemos? Foi precisamente o que lhe aconteceu…
De repente, vira-se obrigada a reter aquelas lágrimas que tendiam a encher os seus olhos; de repente, vira-se a fazer um enorme esforço para não mostrar, a quem a acompanhava que, de facto, não estava bem; repentinamente, não estava num dia calmo, de felicidade ou plenitude… E tudo o que lhe apetecia era fugir… Fugir para um local longínquo, onde ninguém a encontrasse, de onde ninguém desconfiasse… Onde ela pudesse respirar tranquila e passivamente, onde ela pudesse derramar aquelas lágrimas, onde ela pudesse manifestar o seu inexplicável mau estar, a sua momentânea falta de humor, a sua repentina agonia, o seu profundo desespero…
Não podia… Não podia, de facto, fugir, sem que disso ninguém se apercebesse.
Ela estava no carro, os montes ficavam para trás, os carros passavam pelo seu, as músicas iam passando no rádio mas, a sua agonia e a sua vontade de chorar permanecia. Então, resolve pegar nos seus óculos escuros e colocá-los…
Foi como se, momentaneamente, ela conseguisse ser ela sem que se apercebessem… Foi como se conseguisse, naquele momento, manifestar inúmeras emoções, sem que qualquer um dos acompanhantes do carro se apercebesse… Foi como se não precisasse mais esconder aqueles olhos molhado e tristes… Foi como se fosse possível carregar numa espécie de botão que tem como definição “evacuar”!
Uns meros óculos de sol fizeram-na desabafar, de uma forma silenciosa, interna, reflectida!
E quando olhamos e não vemos nada? E quando ouvimos e não reconhecemos aquele som? E quando tocamos e nem nos apercebemos? E quando comemos e não sentimos aquele maravilhoso sabor? E quando cheiramos aquele fantástico aroma e desperdiçamos esse sentido? E quando queremos reagir a um mau estar e, pura e simplesmente, não conseguimos? E quando queremos sorrir e os músculos faciais não facultam os movimentos que parecem mais simples? E quando queremos pedir desculpa e as palavras não saem? E quando queremos retroceder no tempo e não conseguimos? E quando queremos mudar o futuro e nos sentimos impotentes? E… E quando queremos chorar e não podemos?
Uma espécie de máscara! Uma espécie de alternativa ao isolamento…
Uns meros óculos de sol! Uma mera escuridão! Um mero esconderijo!
Também eu vou recorrer a eles, sempre que me vir obrigada a isso… Sempre que não conseguir controlar aquilo que tanto se reflecte em mim: emoções!
O sol põe-se, o céu escurece e ela deixa de ter alternativa à evacuação que tanto desejava fazer, naquele preciso momento. Apesar disso, tira os óculos e observa o mundo à sua volta… Afinal, aquela tonalidade não era tão escura como ela a via… Afinal, há sempre uma luz onde parece só haver escuridão!
Um mero e momentâneo esconderijo… Um mero e efémero aconchego… Um pormenor que faz a história… Um pormenor que faz a diferença.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

“Nem uma única carícia…”

Ela era feliz sem saber… Vivia, sorria, abraçava, beijava… Sentia-se viva, acariciada, amada… Sentia que era o mundo de alguém. Ela era feliz, pura e simplesmente.
O tempo passa, o sentimento persiste e ela continua a viver, a sorrir, a abraçar, a beijar. Continua a sentir que, de facto, é o mundo de alguém e que tem, também ela, o mundo aos seus pés. Continua feliz e com aquela alegria contagiante. Acorda, olha o céu, está cinzento, o sol escondido, a chuva a querer romper as nuvens, mas nem por isso ela deixa de olhar para a sua cama e sorrir. Tudo faz sentido, tudo é mágico e vive a vida que achava desejar para si.
Sai à rua desprevenida. Começa a chover, mas nem o ficar ensopada pela manhã a faz retirar aquele sorriso. Deixou tanta coisa, impediu que tanta e tanta coisa acontecesse na sua vida… Tudo por amor, tudo por aquela vida, tudo por a vida que achava querer para sempre. Nada importava, desde que o tivesse a seu lado.
A chuva insiste, a felicidade também.
O tempo passa, sem que disso ela se aperceba.
Várias oportunidades perdidas, vários caminhos abandonados, várias armadilhas ultrapassadas, vários obstáculos derrubados… Muitos sorrisos ganhos, muitas lágrimas por gastar.
Afinal, talvez a felicidade não se resuma a uma pessoa, simplesmente! Talvez não seja acordar e ver aquela pessoa, sempre, ao nosso lado, que nos faça viver euforicamente, dia após dia.
A vida continua, o tempo passa, as pessoas envelhecem, a paixão derruba-se e, afinal, ela é infeliz sem saber! Abandonou tudo e apenas lhe importava o amor e uma cabana.
O amor transformou-se em repugnância, a cabana transformou-se num local onde já não conseguia viver, a magia passou a ser nula, o carinho evaporou, a felicidade abandonou-a.
Deixou de conseguir pronunciar palavras tais como “amor”, “querido”, “felicidade”, “alegria”, “união” e tantas outras que a faziam recordar aqueles que ela considerava serem os melhores momentos da sua vida.
Aquela rosa que nasceu e desabrochou? Acabou por murchar… Aquele sol que acabava sempre por romper a manhã? Deixou de o fazer… Aquela lufada que surgia sempre que ela se sentia sem ar? Deixou de aparecer…
Ela era infeliz sem saber, e tudo se resumiu a “não mais beijos de manhã, nem uma única carícia”…
“Nem uma palavra mais”…