Naquele que parecia ser o dia mais
agradável do ano, o sol não podia brilhar mais e a temperatura não podia ser
outra. Paralelamente, eles sentiam-se completamente concretizados e a
felicidade parecia não ter limites. Promessas, juras, compromissos! Afeto,
carinho, ternura! Abraços, beijos, carícias!
“Sabes, tenho medo do futuro…”
“Oh querida, não penses nisso por
agora. Sabes que o melhor que temos a fazer é viver o presente… Tem sido muito
bom estar ao teu lado. Vamos aproveitar estes momentos maravilhosos que a vida
nos oferece.”
“Eu concordo contigo. Este primeiro
ano de casamento tem sido fantástico! Mas não te quero perder, meu amor… Quero envelhecer ao teu lado. Quero
sentir a tua presença ao longo do tempo. Não importa por o que passemos, mas
quero garantir que ficaremos sempre um ao lado do outro. Prometes que não me abandonas?”
“Nunca te abandonarei. Seremos sempre um só. Sabes que se não fosse
para ter este pensamento sempre presente, eu não casaria. Tu, realmente,
fizeste-me acreditar que o mundo teria muito mais a oferecer contigo ao meu lado.
Hoje, posso dizer que sou feliz. Tenho ao meu lado a mulher mais linda do
mundo!”
“Oh, sabes bem que isso é tudo uma
questão de perspetiva…”
“É a minha perspetiva! E isso é o que mais te deve importar!”
“Tu, realmente, consegues sempre
dar-me a volta!”
Se há coisa que não pede
agendamento, nem licença para progredir, é aquilo a que comum e gentilmente se
chama de tempo. Na verdade, se tomasse a designação de abismo, em muitas
ocasiões, não seria completamente desapropriado…
“Estás muito bonito hoje! Gosto de
te ver assim! Amanhã vais estar muito melhor! Depois de amanhã, as melhoras vão
ser muito mais evidenciadas! Depois de depois de amanhã já nem nos vamos
lembrar de como estavas ontem! E vai ser assim… E daqui a uns dias já vais
estar em casa, na nossa casa, e já te vais sentir como novo! E eu? Já vou
conseguir adormecer a olhar para ti. Já vou conseguir reconstruir, mentalmente,
inúmeros instantes marcantes por que passámos.”
Na ausência de palavras, a verdade
é que aqueles olhos cheios de água queriam mostrar muito mais do que qualquer
lista infindável de vocábulos! Evidenciavam uma pluralidade de sentimentos, uma
explosão de pensamentos, uma cascata de acontecimentos, uma sequência de anos e
momentos.
“A nossa filha está lá fora à
espera para te ver. Conseguiu sair mais cedo do trabalho para vir falar um bocadinho contigo. E ainda conseguiu
ir buscar a nossa neta à escola…”
Uma lágrima tende a escorrer pelo
rosto dele, e nada pode fazer para a impedir. Nada pode fazer para esconder o deslize
e a evidência da uma tristeza profunda.
“Minha senhora, peço desculpa mas
vai ter de sair. Já passou o tempo da visita…”
Tu disseste que nunca me abandonarias. Mas realmente, é tudo uma questão de perspetiva. E acredites ou não, continua
a ser a tua… a minha… a nossa perspetiva. Porque sei que nunca me abandonarás.
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