quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Calafrios, medo… Mas um dia, um dia isto mudará…

Estava frio… Muito frio! O que me confortava era o calor vindo do meu fogão a lenha… Esse calor que me aquecia, que me tranquilizava, que me aconchegava continuamente…
Eu estava a trabalhar (tenho sempre muita coisa a fazer! E se não tenho, invento!) e o meu pai estava ao meu lado a ler o seu jornal, como diariamente faz… “Selma, mais assaltos em Gaia!”; passado uns minutos: “Olha mais!” e lia as notícias, de forma corrente, que acabavam por ser chocantes. Eu, satisfeita por estar nessa cidade há mais de um ano e não ter como que razões de queixa afirmei tal satisfação e senti-me, realmente, intocada com as notícias constantes do Correio da Manhã! Isto aconteceu numa quinta-feira, dia 18 de Novembro de 2010!
18, 19, 20… 21! 21 de Novembro de 2010! Das piores sensações que tive! Dos maiores arrepios por que passei! Do maior medo sentido por mim! Tive uma vontade imensa de desistir de tudo… Daqueles bens materiais que não o são apenas pelo valor monetário mas também pelo valor sentimental que desencadeiam em nós, seres vivos, enquanto membros deste mundo!
Dia 21 de Novembro, às 21:21 horas, senti medo! Senti raiva! Foi o “sentir tudo de todas as maneiras”, como Fernando pessoa, através de Álvaro de Campos, refere num dos seus magníficos poemas…
“O meu relógio!”
Senti-me tão indefesa, senti um muro cair sobre mim!
“Selma, porque é que a minha pasta está no chão?!”
Achava eu que ela já não sabia como deixava as coisas (uma vez que foi a última a sair de casa, e não eu)!
“Selma, porque está o armário aberto e tudo no chão?”
Quando entrei pelo corredor e vi a porta aberta foi uma sensação de… sei lá! Medo? Terror?
Tremi… Tremi muito! Chorei, Chorei muito… Temi, muito mesmo!
“Levaram-me o meu relógio, de certeza!
O telemóvel é o meu refúgio… Ligo para quem precisa de saber de tal acontecimento (Polícia) e ligo para os que adoro incondicionalmente, com a sensação de que poderia estar morta naquele momento, caso no dia anterior eu estivesse em casa e mostrasse silêncio aquando de uma possível tentativa de invasão!
“Assaltaram-me a casa!”
Não estou a exagerar, não estou a amplificar a história, não estou a inventar…
Aconteceu, e aconteceu comigo, em Vila Nova de Gaia! Aconteceu onde menos pensava que pudesse acontecer: no local onde mais protegida me sentia – em casa! Na minha casa!
Remexeram as minhas coisas! Os meus segredos, as minhas lembranças… Conhecem-me! Viram fotografias minhas e dos que amo… Viram tudo, tocaram em tudo… Nojo? Sinto um bocado! Náusea? Continuo a sentir! Raiva? Sim, sinto muita… Se sofro? Ainda, igualmente…
Deixei passar algum tempo até escrever este texto porque agora já consigo falar mais calmamente acerca deste acontecimento marcante na minha vida… Porque apenas quero dizer que pode acontecer com qualquer um (e não apenas com os outros).
No momento senti que nada fazia sentido, mas agora, e depois de muito pensar, levaram-me muita coisa mas poderia, efectivamente, ser pior… Como já disseram: “levaram os anéis mas ficaram os dedos”…
Sabem? Num momento adquirimos um bem… No outro esse valor é-nos retirado… Custa, mas há coisas bem piores…
A ultrapassar este susto é o que estou a tentar fazer… A ser forte é o que estou a tentar concretizar…
Sem anéis, sem fios, sem aqueles relógios, sem aquela caneta de prata, sem a bateria do computador, sem a máquina fotográfica, sem aquela lembrança dada pelo meu avô do FCP… Mas com o que me ficou, eu terei tudo de novo… Não por agora, não no futuro próximo, mas um dia… Um dia…
Por agora, fico com as fotografias tiradas por aquela máquina… Por agora, fico com as fotografias que mostram aqueles bens… Por agora, fico com a memória dos dias e da expressão que fiz ao receber aquelas peças como presentes…
Lembrança… Pura lembrança…
Um dia também ficarei apenas na lembrança de alguém… Um dia lembrar-se-ão de mim e dos momentos que proporcionei…
Um dia… Um dia… 


4 comentários:

  1. Adorei o texto Selma! Tens muito talento :)
    Beijinhos

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  2. Confesso que tive os mesmos sentimentos que tu ao entrar pela tua casa ! :s
    Só procurava uma forma de descobrir quem tinha feito aquilo, porquê e como !!
    E só queria tirar.te dali, retroceder no tempo e evitar aquele acontecimento, e carregar no play no momento que estávamos antes de lá entrarmos e depois de chegarmos que tudo estivesse como nós pensávamos que estaria ..
    Só queria poder proteger.te ! Senti uma impotência enorme !!
    E por mais que as horas passassem, por mais que os meus pais me ligassem e dissessem para ir para casa que já se fazia tarde, eu não conseguia, não conseguia deixar.te ali assim, naquele estado, naquela casa assim, desprotegida !!
    Esse dia marcou.me muito ... Esse momento marcou.me ainda mais ...
    Só quero que saibas que estou aqui para te apoiar em tudo !! SEMPRE
    E que embora também me dissesses para ir para casa eu nunca te deixaria ali assim ..
    Amo.te muito <3 *

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  3. Ó pequenina... apesar de nunca ter passado pelo mesmo, consigo sentir a tua dor e o teu medo... e acredita que dava tudo para te poder ajudar a ultrapassar esse momento...
    Eu sei o quanto te custou perder todos aqueles bens, não pelo valor monetário (tal como disseste) mas pelo valor sentimental. Lembro-me bem da tua reacção quando te ofereci dois dos relógios que te levaram... a tua expressão de felicidade... mas olha, não pude impedir que te levassem esses relógios, mas uma coisa te garanto, voltarei a ver a expressão de felicidade ao oferecer-te muitos mais relógios!!! :)
    Adoro-te muito mana linda!

    P.S. A tua descrição, o sentimento que colocas em tudo o que escreves é, sem dúvida, qualquer coisa de extraordinário! Não te esqueças que sou a tua fã nº 1 :D

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  4. Óh mha linda posso imaginar o teu sofrimento, mas tal como ja te tinha dito podia ser bem pior!
    Agora há k seguir em frente... Estarei aki para o k precisares :)

    Mas adorei o texto, cnsegues surpreender-me cada vez mais, cntinua assim!

    Beijinhos =)

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