Ela arranjou-se rapidamente, abriu o frigorífico na esperança de ter algo que a satisfizesse àquela hora da manhã mas com a mesma rapidez que o abriu, fechou-o… Para além de não haver lá nada que lhe apetecesse comer ou beber, já não havia tempo a perder… O comboio não esperava por ela…
Saiu de casa, fechou a porta e pôs-se a caminho.
Queria sair daquela rotina, daqueles momentos que a prendiam ao passado, daquela pessoa que, apesar de longe, ainda mexia incondicionalmente com ela. Ainda a fazia pensar nos momentos que passaram e no quão infantil tinham sido perante aquela situação! Fazia-a pensar que, apesar de saber que a vida tem de continuar, há momentos que ficam e que quando se pensa neles o tempo congela, o corpo aquece, a mente paralisa; quando se acaba com o pensamento, o mundo cai de novo… Tudo volta a ser como de antes… O tempo aquece e o corpo arrefece.
Ele acordou de um sono superficial. Levantou-se do sofá e estava, realmente, sozinho. Tinha saudades dela e sabia que tinha sido egoísta e infantil com a mulher que amava. Quando sentia a culpa a invadir-lhe o corpo logo pensava, inconscientemente, que ela tinha sido a culpada; que ela tinha errado; que ela não podia brincar com ele, daquela forma. Rapidamente se irritava…
Tomou um banho, arranjou-se, abriu o frigorífico e verificou que lá estava aquele bolo que ela, outrora, tanto gostava, tanto apreciava, tanto elogiava… Comeu um pedaço e saiu de casa com uma rapidez indiscutível. É que os pensamentos, por vezes, também atormentam!
Faltava tão pouco para ela apanhar aquele comboio! Não havia tempo a perder. Eram tantas as linhas que tinha de passar que resolveu carregar no botão do elevador para a levar até ao piso de baixo, para depois subir até à linha que pretendia (encontrava-se na linha 14 e queria chegar até à primeira linha).
Ele estava a caminho da estação!
O elevador chegou, levou-a até ao piso de baixo. Ela correu durante alguns segundos para conseguir chegar perto da linha 1. Mais uma vez, chamou o elevador e ele abriu-se para ela entrar.
Ele entrou na estação num ápice (a mesma estação que falei até agora), e rapidamente se dirigiu para as escadas rolantes, com vista a atingir a linha 15…
O elevador subiu… Levou-a até à linha 1.
As escadas rolantes da linha 1 desceram.
E não, ela não o avistou… Ele não a viu… Ambos apanharam o comboio e seguiram a sua vida, durante aquele dia… Se aquele elevador demorasse mais uns segundos a chegar! Se ela não corresse tanto… Se…
Aquela linha – à qual alguns chamam de destino – assim o queria… Já tinha de ser assim…
Eu não acredito no destino; por isso não acredito que tivesse de ser assim.
ResponderExcluirO teu texto ajudou-me muito, obrigada :)