segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O meu amor a abraçar o teu…


O tempo parecia não passar. O relógio parecia ter parado. A chuva parecia não desaparecer. A ansiedade estava a consumi-la. O coração parecia não querer abrandar o batimento e a respiração era cada vez mais acelerada.

As lembranças surgiam como um relâmpago em dia de tempestade, a saudade apertava como nunca tivera acontecido, a vontade de o abraçar parecia não ter fim! Olhava para o telemóvel e, mais uma vez, os minutos não avançavam à velocidade que ela queria e desejava!

O voo estava próximo e a vontade de regressar ao país era bem menor do que a vontade que sentia em vê-lo, de novo, ao vivo e a cores. As mensagens trocadas, recentemente, despertaram nela sensações únicas, desejos infinitos. As chamadas realizadas por Skype, durante as últimas semanas, fizeram renascer uma nova esperança nela. Ela voltara a tremer, ao pensar em alguém! Ela voltou a sentir um calafrio ao escolher o que vestir antes de falar com ele! Ela voltou a sentir vontade de viver intensa e fortemente…

As promessas. As mesmas promessas durante anos. As promessas que ambos fizeram. As promessas que ambos prometeram cumprir (e não cumpriram). As promessas que fizeram parte de uma vida.

Ele analisa as informações dos voos. No Terminal 1, o voo EZY7664 acabara de aterrar. Amesterdão iria deixar de ser um pesadelo para ele!

Ela sai do avião a uma velocidade louca, como se o amor da vida dela a aguardasse. Como se a felicidade dela dependesse daquele momento…

“Promete que nunca mais vais fugir de mim…”

“Prometo não fugir de ti… Mas se me empurrares, eu não vou ter opção… Nesse momento, as circunstâncias vão mudar… Por isso, peço-te para que não o faças. Porque eu... porque eu amo-te muito! E não aguentaria mais ficar longe de ti…”

“Prometo não te empurrar, meu amor! Chega cá! Sentes?"

“O quê?”

“O meu amor por ti…"

“E tu…? Sentes?”

“O quê?”

“O meu amor a abraçar o teu…”



sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

“Deixa-me mudar o futuro”



Naquele dia fazia dois anos desde que tivera a discussão que mudou a sua vida. Muitos hábitos foram alterados desde então, muitos serões foram modificados, muitos costumes foram introduzidos no quotidiano dela. Todas as mudanças surgiram progressiva e espontaneamente, sem que ela fizesse planos de nada que tivesse a ver com o seu futuro.
Dois anos depois, deitada no seu sofá, ela dá por si a contabilizar, precisamente, o tempo que discutiram, o assunto em discussão e as repercussões a que acabou por assistir, como consequência desse conversa descontrolada. Relembrou que já fazia dois anos desde que tinham terminado a relação de cinco e, subitamente, sentiu um vazio e uma ansiedade que não sentia há muito.
Destemida e decidida a libertar-se daqueles pensamentos, levanta-se, veste o seu casaco de pelo, pega no telemóvel e resolve sair de casa. Fazia muito frio, o que a fez esconder-se por dentro do seu casaco de capuz. Ao mesmo tempo que o seu corpo a obrigava a esconder-se por entre a roupa, os seus pensamentos insistiam e, desta vez, recordava palavras que nunca iria esquecer… “Desde que te conheci durmo menos mas muito melhor, meu amor…”, “Estou viciado em ti… o que é perigoso, dado que ainda só experimentei uma vez…”, Fazes-me andar o dia todo a sorrir…”.
Envolvida nos pensamentos que surgiam em cascata, deseja atravessar para o outro lado da rua e fá-lo sem olhar à sua volta…
“Mãe?! Onde estou?”, “Calma, vai dar tudo certo! Estamos só a fazer uns exames para ter a certeza que está tudo bem! Foste atropelada…”, “…E o meu filho?”, “Ele está la fora… Trouxe-o comigo… A propósito, está bem acompanhado, penso eu…“
A porta abre-se e a mãe sai, dando lugar a um rapaz com um ar preocupado e destemido.
“Que fazes aqui?!”
 “Calma, por favor… Há umas coisas que te quero dizer há muito, mas nunca tive a coragem suficiente… Sabes? Apesar de dormir mais desde aquela nossa discussão, nunca mais as minhas noites foram as mesmas! E sim, continuo num processo de desintoxicação de ti, mas não está a resultar… Porque sem ti, não vale a pena acordar a sorrir! Será possível voltar o tempo atrás? Ou pelo menos, fazer um futuro diferente? Naquele dia eu não pensei… Deixei-me levar completamente pela emoção e não pensei que era uma vida em jogo… Aliás, três vidas! Por favor, deixa-me mudar o futuro, já que não posso mudar o passado! Por ti, por mim, pelo nosso filho… ”
Ela olha para ele e apenas sorri… Porque foram enormes as mudanças na vida, mas nenhuma suficientemente grande que a fizesse esquecê-lo… Nenhuma suficientemente importante que a fizesse seguir em frente, sem olhar para trás… 


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Perspetiva



Naquele que parecia ser o dia mais agradável do ano, o sol não podia brilhar mais e a temperatura não podia ser outra. Paralelamente, eles sentiam-se completamente concretizados e a felicidade parecia não ter limites. Promessas, juras, compromissos! Afeto, carinho, ternura! Abraços, beijos, carícias!
“Sabes, tenho medo do futuro…”
“Oh querida, não penses nisso por agora. Sabes que o melhor que temos a fazer é viver o presente… Tem sido muito bom estar ao teu lado. Vamos aproveitar estes momentos maravilhosos que a vida nos oferece.”
“Eu concordo contigo. Este primeiro ano de casamento tem sido fantástico! Mas não te quero perder, meu amor… Quero envelhecer ao teu lado. Quero sentir a tua presença ao longo do tempo. Não importa por o que passemos, mas quero garantir que ficaremos sempre um ao lado do outro. Prometes que não me abandonas?
Nunca te abandonarei. Seremos sempre um só. Sabes que se não fosse para ter este pensamento sempre presente, eu não casaria. Tu, realmente, fizeste-me acreditar que o mundo teria muito mais a oferecer contigo ao meu lado. Hoje, posso dizer que sou feliz. Tenho ao meu lado a mulher mais linda do mundo!”
“Oh, sabes bem que isso é tudo uma questão de perspetiva…”
“É a minha perspetiva! E isso é o que mais te deve importar!”
“Tu, realmente, consegues sempre dar-me a volta!”
Se há coisa que não pede agendamento, nem licença para progredir, é aquilo a que comum e gentilmente se chama de tempo. Na verdade, se tomasse a designação de abismo, em muitas ocasiões, não seria completamente desapropriado…
“Estás muito bonito hoje! Gosto de te ver assim! Amanhã vais estar muito melhor! Depois de amanhã, as melhoras vão ser muito mais evidenciadas! Depois de depois de amanhã já nem nos vamos lembrar de como estavas ontem! E vai ser assim… E daqui a uns dias já vais estar em casa, na nossa casa, e já te vais sentir como novo! E eu? Já vou conseguir adormecer a olhar para ti. Já vou conseguir reconstruir, mentalmente, inúmeros instantes marcantes por que passámos.”
Na ausência de palavras, a verdade é que aqueles olhos cheios de água queriam mostrar muito mais do que qualquer lista infindável de vocábulos! Evidenciavam uma pluralidade de sentimentos, uma explosão de pensamentos, uma cascata de acontecimentos, uma sequência de anos e momentos.
“A nossa filha está lá fora à espera para te ver. Conseguiu sair mais cedo do trabalho para vir falar um bocadinho contigo. E ainda conseguiu ir buscar a nossa neta à escola…”
Uma lágrima tende a escorrer pelo rosto dele, e nada pode fazer para a impedir. Nada pode fazer para esconder o deslize e a evidência da uma tristeza profunda.
“Minha senhora, peço desculpa mas vai ter de sair. Já passou o tempo da visita…”
Tu disseste que nunca me abandonarias. Mas realmente, é tudo uma questão de perspetiva. E acredites ou não, continua a ser a tua… a minha… a nossa perspetiva. Porque sei que nunca me abandonarás.



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Escalas e limites


Enquanto se aquecia junto à lareira do seu humilde apartamento, começava a associar progressivamente a sua vida às brasas que começavam a evidenciar-se, e dava por si a comparar a intensidade da sua existência à pujança das chamas daquele lume. Também aquela fogueira já tivera estado mais acesa, e também ela já se sentira mais brilhante.
Devia estar a fazer um ano desde aquela última chamada. Se, por momentos, ao longo da sua vida, achou que ligar a alguém significava encurtar a distância, desde aquele telefonema ela passou a pensar neste aparente facto evidente, de uma forma precisamente contrária.
“Estás a ouvir-me?”
“Completamente!”
“É que não parece nada!”
“Quem te disse que devemos viver de aparências?”
“Ninguém me disse. Não quero viver de aparências. Nunca vivi dessa forma. E muito menos quero passar a viver! Porque eu quero ser feliz.”
            “Eu também quero.”
“Sabes que do querer ao fazer algo para tal vai um longo caminho?”
“Sei que é um caminho que, para além de longo, é complexo, é trilhado, é desafiante.”
“Ai é isso que achas que sou? Um desafio? Um jogo de estratégia?”
“Se te consideras um desafio, eu quero desafiar. Se és um jogo de estratégia, eu quero arranjar a melhor forma para ganhar, porque só achava que era um homem sem sorte até te conhecer.”
“Ouve, eu quero sentir isso que estás a dizer. Já não me basta que fales palavras bonitas, nem que tentes olhar-me com esses teus grandes e lindos olhos, nem me basta pensar que até estás a falar seriamente. Depois de todo este tempo, eu quero mais, eu sinto que mereço algo melhor!”
“Como me podes exigir mais do que aquilo que posso dar a alguém?”
“O que tens dado não é o suficiente.”
“Nem que eu te diga que é o melhor que consigo oferecer?”
“Consegues dizer-me que estás a dar o teu melhor?”
“Estou a dar-te o meu melhor.”
Aquela conversa permanecia na sua recordação e atormentava-a a cada dia que passava. As lembranças dos momentos que tinham passado juntos, as memórias dos sorrisos de ambos quando se aventuravam a fazer ou a dizer algo de novo, as recordações daqueles beijos desejosos e, ao mesmo tempo, sentimentais, tudo isso fazia com que ela, naquele momento, sentisse um aperto enorme no peito, e desejasse não ter começado aquela conversa, nem ter progredido à medida que sentia que ele estava, de facto, a falar com o coração.
“Então desculpa, mas o teu melhor não me chega. E se estás no limite, também eu estou no limiar da resignação em relação a nós. Não me chega o teu máximo porque ele está a bater na minha linha média. Não me voltes a ligar.”
Naquela noite fria de um outono dianteiro, ela arrependia-se de ter dito aquelas palavras. Arrependia-se de o ter afastado da sua vida, e desejava voltar o tempo atrás.
Hoje, ela já não se arrepende mais do que tivera dito, nem do que tivera feito.
“Foi preciso mais de um ano para ignorares o meu pedido de não me voltares a ligar... Porquê?”
“Porque queria ter a certeza que o meu máximo não se ficava pela tua metade. Porque queria ter a certeza que era o homem certo para ti. Porque queria comprovar a mim mesmo que, mesmo depois de mais de um ano passado e da tua ausência física, eu te amaria da mesma forma.”
“E então, ainda me amas como de antes? É que durante este tempo apercebi-te que o teu máximo, afinal, rebenta com a minha escala.”
“Não… Desculpa, mas já não te amo como de antes. Apercebi-me que não conhecia os meus limites… Sabes porquê? Porque durante este tempo conheci-me melhor e apercebi-me que te amo ainda mais.”


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Eu sei que um dia me vais perdoar



Estava uma noite tranquila, contrariamente à forma como se encontrava a mente dela.
Passava meia hora das duas da manhã. Naquele dia, ao acordar cedo, tinha prometido a si mesmo que se deitaria a horas decentes. Tentou cumprir a promessa que fizera, no entanto, apesar de, naquela hora da noite, o corpo se encontrar numa posição razoavelmente pacata, a sua imaginação e o seu pensamento voavam até bem longe.
Num impulso, decide acender a luz, afastar a única peça que lhe cobre o corpo e deslocar-se até à outra parte do apartamento. Abre a persiana da sala e avista, com alguma dificuldade, o mar, lá ao fundo. Estava uma noite de nevoeiro cerrado, e tanto luzes como os contornos de algumas pessoas que andavam pela calçada pareciam distorcidos e irreais, em concordância com o seu estado de espírito.
Nevoeiro, tristeza, saudade, angústia, aflição. É o que sente, a estas horas, nesta sala, onde já tinha sido tão feliz, onde já tinha vivido tanta coisa, onde ainda havia tanto para viver.
Aquele tempo que tantas vezes caracteriza as noites de Agosto, numa cidade à beira-mar, impedia a correta visualização do que se passava lá fora; o detalhe era impossível de se obter. Também ela tentava detalhar aquele momento trágico, mas não conseguia. Mais uma vez, era tudo um clarão, era tudo uma incerteza; rondava tudo a imperfeição da vida.
Tentou desviar os pensamentos que a atormentavam cada vez mais. Sempre ouvira dizer que o tempo cura tudo, mas estava a constatar que isso não passava de uma forma reconfortante e animadora que as pessoas usavam para tentar viver de uma forma mais positiva, a cada dia que passasse, após um acontecimento marcante e infeliz. Com ela, tudo piorava a cada noite que passada, a cada momento em que a sua mente revivia aquele nefasto acidente.
Passaram 2 anos desde a última vez que se tinham abraçado fortemente, desde que tinham jurado que iriam ficar juntos para todo o sempre, desde aquela noite em que fizeram amor de uma forma tão intensa e apaixonante. Ela nunca mais esquecera a intensidade do seu beijo, o poder da sua língua, a magia dos seus braços, a impetuosidade do seu olhar. Era como se aquela sinistra noite, fosse aquela mesmo.
Volta a olhar a cidade lá fora. Por momentos, o coração bate mais forte e, inconscientemente, foca o seu olhar naquele homem. Não consegue ver nada mais do que um vulto, uns contornos, um andar característico; é tudo o que consegue identificar.
Ele não voltaria para a beijar ou abraçar da forma maravilhosa com que o fazia tão frequentemente. De qualquer das formas, aqueles segundos de curiosidade, surpresa e imaginação, apaziguaram-lhe a alma, e uma lágrima correu-lhe pela cara.
Ao menos a imaginação levou-a a encontrar alguém na calçada, tão semelhante a ele.
Tenta esconder a ela própria que aquela lágrima tinha realmente caído. Fecha e abre os olhos repentinamente, na esperança de todo aquele sofrimento passar com aquele gesto.
Eu sei que um dia, seja onde for, me vais perdoar por aquele minuto fatal. Provavelmente, mais rapidamente do que eu.
Vai deitar-se, novamente, com o mesmo sentimento de perda. Pega no telemóvel e abre a pasta com algumas das mensagens enviadas por ele: “A forma com que te tornaste infinitamente importante é estranhamente encantadora. Quero-te comigo até ao final dos meus dias.”
Apaga a luz e tenta adormecer com a ideia de que aquela mensagem tinha existido, naquela precisa noite.