quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Questão de tempo

Dizes que nunca serás capaz de esquecer este momento. Posso mesmo acreditar em ti? É que eu vou sempre associar este local, esta cidade, este estado de espírito, a ti! Só a ti! Porque só tu interessas. E vai ser sempre assim…
Ela recordava estas palavras, enquanto passeava pelo areal, ao mesmo tempo que contemplava o mar e era aquecida pelo sol de final de tarde. Tinham passado precisamente oito anos e tinha sido exatamente naquele local que tinham feito juras de amor eterno.
Pouco tempo depois, e de forma inexplicável, as juras de amor eterno ficaram-se, provavelmente, pelos grãos de areia daquela praia, ou então pelo sal daquela água onde tantas vezes fizeram amor, de forma incondicional e não premeditada.
Ele, simplesmente, deixara de a contactar, decidira alterar o número de telemóvel e afastá-la, completamente, da sua vida. Um e-mail enviado foi o que ele considerou como suficiente para terminar uma relação que já durava há vários anos. Mudara de cidade, mudara de vida e decidira, mera e inexplicavelmente, eliminar dela aquela que jurava ser a mulher que sempre amaria.
Oito anos depois, após ter ficado aquele tempo todo sem visitar aquela cidade, ela decide voltar lá. Recorda, de uma forma imutável, o quanto tinham prometido que nunca iriam passar férias naquela cidade, sem que fosse na companhia um do outro. Mas oito anos depois ela resolveu quebrar a promessa e encarar aquele fantasma, de uma vez por todas.
Ao mesmo tempo que sentia a brisa na cara, os pensamentos teimavam em invadi-la, vincadamente; ao mesmo tempo que sentia o seu cabelo a voar, as lágrimas teimavam em cair, compassadamente.
Pega num cigarro, na expectativa de diminuir aquela dor, aquele aperto, aquela ansiedade. Repara que é o último. Faltavam 15 minutos para as oito e decide sair da praia e dirigir-se a um café/restaurante, para retocar a sua fonte de nicotina.
Entra, procura a máquina do tabaco. Encontra-se no fundo do recinto, mesmo ao lado de uma mesa que continha um bolo de aniversário, uma criança e um casal.
Dirige-se à máquina.
Deviam ter terminado de cantar os parabéns naquele instante, porque uma senhora decide levantar-se e dar os parabéns à criança.
Parabéns! Então diz-me lá pequerrucho, quantos anos fazes?
Filho, não estás a ouvir a senhora? Depois desembrulhas o presente!
Ela sente um calafrio ao ouvir aquela inesquecível e arrepiante voz. O sangue parece deixar de circular. O ar parece não ser suficiente.
Ah, desculpe. Já faço oito anos!
Mas, num instante, e já com o maço na mão, tudo passou a fazer sentido. Porque é tudo uma questão de tempo…


Um comentário:

  1. às vezes fico com a sensação que escreves sobre mim..
    incrivel como acertas nestas coisas.

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