“Dizes que nunca serás capaz de esquecer este momento. Posso mesmo
acreditar em ti? É que eu vou sempre associar este local, esta cidade, este
estado de espírito, a ti! Só a ti! Porque só tu interessas. E vai ser sempre
assim…”
Ela recordava estas palavras, enquanto
passeava pelo areal, ao mesmo tempo que contemplava o mar e era aquecida pelo
sol de final de tarde. Tinham passado precisamente oito anos e tinha sido exatamente
naquele local que tinham feito juras de amor eterno.
Pouco tempo depois, e de forma
inexplicável, as juras de amor eterno ficaram-se, provavelmente, pelos grãos de
areia daquela praia, ou então pelo sal daquela água onde tantas vezes fizeram
amor, de forma incondicional e não premeditada.
Ele, simplesmente, deixara de a
contactar, decidira alterar o número de telemóvel e afastá-la, completamente,
da sua vida. Um e-mail enviado foi o que ele considerou como suficiente para
terminar uma relação que já durava há vários anos. Mudara de cidade, mudara de
vida e decidira, mera e inexplicavelmente, eliminar dela aquela que jurava ser a mulher que sempre amaria.
Oito anos depois, após ter ficado
aquele tempo todo sem visitar aquela cidade, ela decide voltar lá. Recorda, de uma
forma imutável, o quanto tinham prometido que nunca iriam passar
férias naquela cidade, sem que fosse na companhia um do outro. Mas oito anos
depois ela resolveu quebrar a promessa e encarar aquele fantasma, de uma vez por
todas.
Ao mesmo tempo que sentia a brisa
na cara, os pensamentos teimavam em invadi-la, vincadamente; ao mesmo tempo que
sentia o seu cabelo a voar, as lágrimas teimavam em cair, compassadamente.
Pega num cigarro, na expectativa de
diminuir aquela dor, aquele aperto, aquela ansiedade. Repara que é o último.
Faltavam 15 minutos para as oito e decide sair da praia e dirigir-se a um café/restaurante,
para retocar a sua fonte de nicotina.
Entra, procura a máquina do tabaco.
Encontra-se no fundo do recinto, mesmo ao lado de uma mesa que continha um bolo
de aniversário, uma criança e um casal.
Dirige-se à máquina.
Deviam ter terminado de cantar os
parabéns naquele instante, porque uma senhora decide levantar-se e dar os
parabéns à criança.
“Parabéns! Então diz-me lá pequerrucho, quantos anos fazes?”
“Filho, não estás a ouvir a senhora? Depois desembrulhas o presente!”
Ela sente um calafrio ao ouvir
aquela inesquecível e arrepiante voz. O sangue parece deixar de circular. O ar
parece não ser suficiente.
“Ah, desculpe. Já faço oito anos!”
Mas, num instante, e já com o maço
na mão, tudo passou a fazer sentido. Porque é tudo uma questão de tempo…