domingo, 11 de agosto de 2013

“Agora estou bem…”

Eram apenas 23:15 horas mas o dia tinha sido tão comprido que não resistiram ficar acordados nem mais um minuto.
A noite estava quente, a temperatura deveria rondar os 35 graus. O silêncio era notório e tudo demonstrava que iria ser uma noite calma e tranquila.
Durante o dia tinham andado pelo Gerês. Tinham saído de casa bem cedo, para aproveitar o dia ao máximo. O calor, a paisagem, o amor que os unia e a paixão evidente foram ingredientes para um dia bem passado. Um dia recheado de alegria, risos, beijos, abraços, promessas, carinho, união!
Ele já tinha estado lá com os amigos, há cerca de 3 anos atrás. Mas tinha sido um dia bem diferente, em que as cervejas eram uma constante, e a diversão tinha sido outra. Anedotas, histórias apimentadas, casos passados e amizades coloridas eram os temas fulcrais daquele encontro masculino.
Agora, as coisas eram diferentes. Ele estava feliz com ela. Nada levaria a pensar que ele estaria com um pingo de interesse noutra mulher.
O telemóvel dele vibrou e ela achava que era o irmão dele a dizer que, finalmente, já era pai e que tudo tinha corrido bem com o parto.
Abre a mensagem. “Amei a noite passada. Sonho passar todas as noites contigo. Quero-te e já tenho saudades tuas. Livra-te dela que estou à tua espera.”
Sente-se angustiada, ao mesmo tempo que olha para ele com uma vontade imensa de o empurrar daquela cama, de sair daquela casa e de nunca mais olhar para a cara dele. Levanta-se num impulso, larga o telemóvel sobre a cama, arruma as coisas dela, num choro compulsivo, num tormento constante. Uma sensação de que o mundo caiu sobre ela e de que nunca mais acreditará em mais ninguém. Afinal, com ele, ela era feliz! Muito feliz, aliás!
Ele continua a dormir. Não sente nada.
A noite passa e o despertador toca. Ele beija-a como faz todas as manhas. Ela assusta-se e, num impulso, solta um “ai”.
“Que se passa, amor? Sentes-te bem?”
Uma sensação de alívio. Uma maré de felicidade. Um sopro de ar. Não tinha passado de um sonho. Ele estava ali, com ela. Ele estava ali e era só dela.
Ela sorriu. “Agora estou bem… Estás ao meu lado! Quero-te sempre aqui.”
Ele beijou-a. “Vou estar sempre aqui. Vou ser sempre teu.”


sábado, 3 de agosto de 2013

“Um olhar oportunista, talvez”

Faltam 15 minutos para a porta do voo fechar.
O autocarro que a levara até ao aeroporto tinha-se atrasado. Uma avaria no motor do veículo era a única coisa que ela percebia. E, claro está, ouvia alguns turistas ingleses repetirem constantemente a palavra delay (atraso), e estava a ficar aterrorizada com receio de perder aquele voo. Tinha-lhe custado 145 euros, e ter de comprar outra viagem não fazia mesmo parte dos planos dela.
Apesar daquela agitação, não conseguia parar de pensar no quão gostou de conhecer Roma, e de toda a tranquilidade que sentiu quando estava perante a Fontana di Trevi. Permaneceu lá umas 2 horas. O calor de Itália fazia-a sentir-se tão bem como se estivesse em Portugal e os sorrisos que via, constantemente, nos rostos dos casais apaixonados, fazia-a sentir-se nostálgica mas, simultaneamente, feliz. Era como se dependesse da felicidade dos outros para, também ela encontrar um patamar de plenitude, calma, serenidade e mesmo felicidade.
De repente, um rapaz aproxima-se dela: “Excuse me. Can you take a picture of me?(Desculpe, pode tirar-me uma fotografia?). “Of course!” (claro!), responde ela, num impulso, ao mesmo tempo que, automaticamente, se levanta daquele degrau. Ela faz disparar o flash, pergunta-lhe o que acha da foto. Ele diz que está ótima e agradece. Naquele momento, um olhar especial foi notório. Não foi de paixão, ou de amor à primeira vista, mas foi de sedução. “Um olhar oportunista, talvez”, pensou ela.
A verdade é que estava a ver os ponteiros do relógio a passar, estava a ficar preocupada com o atraso do autocarro, mas aqueles grandes e verdes olhos não lhe saiam da cabeça. “E pronto, fui enfeitiçada na Fontana di Trevi, por um turista de uma parte qualquer do Mundo… Só a mim!” Era o que ela pensava, na tentativa de afastar aquele pensamento que teimava em permanecer.
Finalmente, o autocarro chega. Corre para o local da revisão das malas, olha o relógio. Faltam pouco mais de 5 minutos para que a porta se feche.
Estavam imensas pessoas à volta do painel que continha o número das portas, o horário dos voos e o respetivo destino. 
A porta para o voo com destino ao Porto ainda não estava no painel e apenas referia que, em instantes, apareceria tal informação.
Preocupada pela discordância entre o bilhete que tivera imprimido antes de viajar para Itália, e o painel, decidiu tranquilizar-se e dirige-se à pessoa mais próxima de si. “Excuse me…” (Desculpe…).
Ele virou-se para ela. Ela calou-se e, paralelamente, sentiu o seu coração acelerar.
Ambos sorriram.
Depois de recuperar da surpresa de o encontrar ali, tenta retirar a dúvida, ao explicar-lhe a situação. E termina dizendo, ao mesmo tempo que sorria, “now it's my turn to ask you something” (agora é a minha vez de te pedir alguma coisa).
Ele sorri e pergunta: “És portuguesa?”
“És português?!”
Os dois sorriem e ele diz-lhe que também vai para o Porto.
Olham para o painel. Porta 110.
Ao mesmo tempo que se dirigem para a porta de voo ela diz-lhe: “Depois quero que me mostres a foto fantástica que te tirei.”