Ela deixa
de insistir em adormecer. Abre os olhos, acende a luz do candeeiro, retira o
lençol que a cobre, sente o chão frio e decide caminhar até a sala. Abre aquele
móvel onde contém tudo e mais alguma coisa no que diz respeito a recordações. Fotografias,
textos redigidos em momentos melhores e em momentos menos bons, objectos fortes
ao nível emocional, pétalas de ramos de rosas oferecidos outrora (dá por si a
pensar, momentânea e espontaneamente, se não seria preferível ter guardado os
espinhos), bilhetes de cinemas e de concertos nos quais ela se fazia acompanhar
por ele, CD’s com as bandas sonoras ouvidas em momentos pontuais, oferecidos
como forma de demonstração do quanto aquelas músicas os remetia para momentos
únicos e inexplicáveis.
Pega
num monte de fotografias soltas e começa a retirar de cima, a ver, a colocar
por baixo; visualiza uma outra foto, procede de igual forma; em seguida outra,
e outra, e outra… Dá por si a relembrar, em poucos minutos, uma série de anos…
Dá por si a imaginar como seria se ainda agora estivessem juntos… Dá por si a
pensar no quanto ridicularizava sempre que sabia que havia uma amiga mais
próxima dele, sempre que havia um telefonema mais demorado, sempre que ele
demorava mais a chegar ao pé dela, sempre que ele adormecia sem lhe ligar ou
mandar uma mensagem. Dá por si a imaginar cada toque, cada gesto, cada
sussurro, cada olhar, cada aproximação, cada desvaneio, cada loucura, cada
surpresa, cada movimento, cada desvio, cada “saída de entre as linhas”, cada
sopro, cada beijo. Dá por si a imaginar cada traço do seu rosto, cada segundo
em que aquele perfume a enlouquecia, cada suor obtido, cada som emitido.
Sente
um arrepio. Emocional? Talvez, mas opta por esconder de si própria tal reacção
e volta ao quarto, pega na sua manta, embrulha-se a ela, inspira fundo e
liberta, agressiva e impulsivamente, o ar inspirado. Dirige-se, de novo, para a
sala e tenta libertar os pensamentos, tenta abstrair-se do que a rodeia,
mentalmente, naquele momento. Tenta abstrair-se do tempo que passou e
direcciona-se, psicologicamente, para aquilo a que todos chamam de futuro! Não
consegue prevê-lo e muito menos consegue sentir o presente, de forma que decide
sentar-se no sofá. Encosta-se, fecha os olhos por cinco segundos e volta a
abri-los.
Arrisca
convencer-se de que já não está a pensar em nada, de que já não idealiza nada, de
que já está reconfortada. Separa os lábios e quebra o silêncio: “Sonho tanto com
o dia em que vou sentir e dizer, decidida e definitivamente, a alguém «És tudo
o que eu quero na vida»…”.
Solta um
sopro… Aquela sensação de que ninguém a fará sentir isto…
Este post faz-me lembrar uma música...
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=xo8OFQvGWVQ