terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Efémero aconchego

Estava um dia de sol mas, apesar disso, o frio fazia sentir-se. Por isso mesmo, ela vira-se obrigada a vestir uma camisola de lã e a abotoar um casaco! Não havia qualquer nuvem sobre o céu azul, não havia qualquer indício de que o tempo iria transformar-se, em contrate com a forma como ela se sentia.
E se, de repente, nos víssemos obrigados a reter as lágrimas, quando elas mais tendem a cair? E se tivéssemos de fazer um tremendo esforço para não mostrar a quem está connosco que, realmente, estamos num dia, de todo, mau? E se quiséssemos ser fortes e não conseguíssemos, de qualquer forma? E se tivéssemos de demonstrar força e, efectivamente, não conseguíssemos? Foi precisamente o que lhe aconteceu…
De repente, vira-se obrigada a reter aquelas lágrimas que tendiam a encher os seus olhos; de repente, vira-se a fazer um enorme esforço para não mostrar, a quem a acompanhava que, de facto, não estava bem; repentinamente, não estava num dia calmo, de felicidade ou plenitude… E tudo o que lhe apetecia era fugir… Fugir para um local longínquo, onde ninguém a encontrasse, de onde ninguém desconfiasse… Onde ela pudesse respirar tranquila e passivamente, onde ela pudesse derramar aquelas lágrimas, onde ela pudesse manifestar o seu inexplicável mau estar, a sua momentânea falta de humor, a sua repentina agonia, o seu profundo desespero…
Não podia… Não podia, de facto, fugir, sem que disso ninguém se apercebesse.
Ela estava no carro, os montes ficavam para trás, os carros passavam pelo seu, as músicas iam passando no rádio mas, a sua agonia e a sua vontade de chorar permanecia. Então, resolve pegar nos seus óculos escuros e colocá-los…
Foi como se, momentaneamente, ela conseguisse ser ela sem que se apercebessem… Foi como se conseguisse, naquele momento, manifestar inúmeras emoções, sem que qualquer um dos acompanhantes do carro se apercebesse… Foi como se não precisasse mais esconder aqueles olhos molhado e tristes… Foi como se fosse possível carregar numa espécie de botão que tem como definição “evacuar”!
Uns meros óculos de sol fizeram-na desabafar, de uma forma silenciosa, interna, reflectida!
E quando olhamos e não vemos nada? E quando ouvimos e não reconhecemos aquele som? E quando tocamos e nem nos apercebemos? E quando comemos e não sentimos aquele maravilhoso sabor? E quando cheiramos aquele fantástico aroma e desperdiçamos esse sentido? E quando queremos reagir a um mau estar e, pura e simplesmente, não conseguimos? E quando queremos sorrir e os músculos faciais não facultam os movimentos que parecem mais simples? E quando queremos pedir desculpa e as palavras não saem? E quando queremos retroceder no tempo e não conseguimos? E quando queremos mudar o futuro e nos sentimos impotentes? E… E quando queremos chorar e não podemos?
Uma espécie de máscara! Uma espécie de alternativa ao isolamento…
Uns meros óculos de sol! Uma mera escuridão! Um mero esconderijo!
Também eu vou recorrer a eles, sempre que me vir obrigada a isso… Sempre que não conseguir controlar aquilo que tanto se reflecte em mim: emoções!
O sol põe-se, o céu escurece e ela deixa de ter alternativa à evacuação que tanto desejava fazer, naquele preciso momento. Apesar disso, tira os óculos e observa o mundo à sua volta… Afinal, aquela tonalidade não era tão escura como ela a via… Afinal, há sempre uma luz onde parece só haver escuridão!
Um mero e momentâneo esconderijo… Um mero e efémero aconchego… Um pormenor que faz a história… Um pormenor que faz a diferença.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

“Nem uma única carícia…”

Ela era feliz sem saber… Vivia, sorria, abraçava, beijava… Sentia-se viva, acariciada, amada… Sentia que era o mundo de alguém. Ela era feliz, pura e simplesmente.
O tempo passa, o sentimento persiste e ela continua a viver, a sorrir, a abraçar, a beijar. Continua a sentir que, de facto, é o mundo de alguém e que tem, também ela, o mundo aos seus pés. Continua feliz e com aquela alegria contagiante. Acorda, olha o céu, está cinzento, o sol escondido, a chuva a querer romper as nuvens, mas nem por isso ela deixa de olhar para a sua cama e sorrir. Tudo faz sentido, tudo é mágico e vive a vida que achava desejar para si.
Sai à rua desprevenida. Começa a chover, mas nem o ficar ensopada pela manhã a faz retirar aquele sorriso. Deixou tanta coisa, impediu que tanta e tanta coisa acontecesse na sua vida… Tudo por amor, tudo por aquela vida, tudo por a vida que achava querer para sempre. Nada importava, desde que o tivesse a seu lado.
A chuva insiste, a felicidade também.
O tempo passa, sem que disso ela se aperceba.
Várias oportunidades perdidas, vários caminhos abandonados, várias armadilhas ultrapassadas, vários obstáculos derrubados… Muitos sorrisos ganhos, muitas lágrimas por gastar.
Afinal, talvez a felicidade não se resuma a uma pessoa, simplesmente! Talvez não seja acordar e ver aquela pessoa, sempre, ao nosso lado, que nos faça viver euforicamente, dia após dia.
A vida continua, o tempo passa, as pessoas envelhecem, a paixão derruba-se e, afinal, ela é infeliz sem saber! Abandonou tudo e apenas lhe importava o amor e uma cabana.
O amor transformou-se em repugnância, a cabana transformou-se num local onde já não conseguia viver, a magia passou a ser nula, o carinho evaporou, a felicidade abandonou-a.
Deixou de conseguir pronunciar palavras tais como “amor”, “querido”, “felicidade”, “alegria”, “união” e tantas outras que a faziam recordar aqueles que ela considerava serem os melhores momentos da sua vida.
Aquela rosa que nasceu e desabrochou? Acabou por murchar… Aquele sol que acabava sempre por romper a manhã? Deixou de o fazer… Aquela lufada que surgia sempre que ela se sentia sem ar? Deixou de aparecer…
Ela era infeliz sem saber, e tudo se resumiu a “não mais beijos de manhã, nem uma única carícia”…
“Nem uma palavra mais”…