quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

E assim olho pela janela…

Está um dia de sol, apesar do frio ser notório! Os casacos aconchegam aqueles familiares que estão à espera daquele acontecimento mágico, marcante, inesquecível e inolvidável… Esperam ansiosa e vincadamente por aquela hora, por aquele minuto, por aquele segundo! Ele chora!
Nasceu aquele bebé… Que menino lindo! Que pele macia e suave! Que inofensivo, que maravilha encapsulada de ser humano! Que perfeição…
Os anos passam e ele reage a essa passagem no tempo… Ri, come, dorme (mais ou menos – dependendo do estado de espírito)… Começa a andar… Acaba por aprender o que está bem e o que está mal; descobre o que está nas suas mãos e o que pode ou não ser mudado por ele; enfim, ganha personalidade e faz de tudo para mostrar o quão importante ele pode ser em determinadas situações.
Esse menino lindo passa a ser um magnífico rapaz e, sem se aperceber, torna-se um homem! Tanta coisa passou pelas mãos dele e tanta coisa ele conseguiu moldar a si mesmo. Foi descobrindo que conseguiu escolher estudar ou não, que conseguiu seleccionar o país onde viver, que conseguiu escolher os amigos (os verdadeiros amigos), que conseguiu escolher a mulher da sua vida! Escolheu a altura de ter os seus filhos e escolheu a casa que queria ter! Teve também a sorte de escolher um emprego e de ser feliz…
Apesar disso, e após 50 anos da sua nascença, descobriu que escolheu tanta coisa mas que foi incapaz de controlar o tempo… Foi incapaz de parar ou acelerar o tempo em determinadas situações! O tempo passou sem que ele se apercebesse!
Olhou-se ao espelho e observou o resultado dessa passagem irremediável…. Observou o seu rosto e viu que já não é o mesmo de há uns anos! Existem rugas, vestígios de momentos de tristeza, de momentos de trabalho, de momentos de aflição! Existem marcas de tantos momentos…
Afinal, ele controlou tanta coisa mas não controlou o envelhecimento… Os anos passaram incomensuravelmente sem que ele tivesse “voto na matéria”! Apesar de não ter feito da sua vida um palco – onde era representado o que as outras pessoas queriam – e apesar de ter vivido da forma que escolheu, apercebeu-se que existem coisas que o transcendem… Ele nunca tinha pensado nisso dessa forma, e isso, por momentos, assustou-o.
A mim também me assusta imaginar-me daqui a 31 anos! Assusta-me mais ainda pensar que nessa altura me vou lembrar do momento em que não me imaginava dessa forma! Mas, que posso eu fazer? Que podemos nós fazer perante isso? Posso controlar muita coisa, mas isso não está nas minhas mãos… Não está nas mão de ninguém…
E assim olho pela janela… E assim olho para o espelho da vida, para o palco do desenrolar das emoções e dos acontecimentos… E assim olho para o local onde tudo se vai passar…  
Envelhecer… O tempo está a passar… O tempo vai continuar a passar…


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Aquela linha assim o queria…

Ela arranjou-se rapidamente, abriu o frigorífico na esperança de ter algo que a satisfizesse àquela hora da manhã mas com a mesma rapidez que o abriu, fechou-o… Para além de não haver lá nada que lhe apetecesse comer ou beber, já não havia tempo a perder… O comboio não esperava por ela…
Saiu de casa, fechou a porta e pôs-se a caminho.
Queria sair daquela rotina, daqueles momentos que a prendiam ao passado, daquela pessoa que, apesar de longe, ainda mexia incondicionalmente com ela. Ainda a fazia pensar nos momentos que passaram e no quão infantil tinham sido perante aquela situação! Fazia-a pensar que, apesar de saber que a vida tem de continuar, há momentos que ficam e que quando se pensa neles o tempo congela, o corpo aquece, a mente paralisa; quando se acaba com o pensamento, o mundo cai de novo… Tudo volta a ser como de antes… O tempo aquece e o corpo arrefece.
Ele acordou de um sono superficial. Levantou-se do sofá e estava, realmente, sozinho. Tinha saudades dela e sabia que tinha sido egoísta e infantil com a mulher que amava. Quando sentia a culpa a invadir-lhe o corpo logo pensava, inconscientemente, que ela tinha sido a culpada; que ela tinha errado; que ela não podia brincar com ele, daquela forma. Rapidamente se irritava…
Tomou um banho, arranjou-se, abriu o frigorífico e verificou que lá estava aquele bolo que ela, outrora, tanto gostava, tanto apreciava, tanto elogiava… Comeu um pedaço e saiu de casa com uma rapidez indiscutível. É que os pensamentos, por vezes, também atormentam!
Faltava tão pouco para ela apanhar aquele comboio! Não havia tempo a perder. Eram tantas as linhas que tinha de passar que resolveu carregar no botão do elevador para a levar até ao piso de baixo, para depois subir até à linha que pretendia (encontrava-se na linha 14 e queria chegar até à primeira linha).
Ele estava a caminho da estação!
O elevador chegou, levou-a até ao piso de baixo. Ela correu durante alguns segundos para conseguir chegar perto da linha 1. Mais uma vez, chamou o elevador e ele abriu-se para ela entrar.
Ele entrou na estação num ápice (a mesma estação que falei até agora), e rapidamente se dirigiu para as escadas rolantes, com vista a atingir a linha 15…
O elevador subiu… Levou-a até à linha 1.
As escadas rolantes da linha 1 desceram.
E não, ela não o avistou… Ele não a viu… Ambos apanharam o comboio e seguiram a sua vida, durante aquele dia… Se aquele elevador demorasse mais uns segundos a chegar! Se ela não corresse tanto… Se…
Aquela linha – à qual alguns chamam de destino – assim o queria… Já tinha de ser assim…


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Calafrios, medo… Mas um dia, um dia isto mudará…

Estava frio… Muito frio! O que me confortava era o calor vindo do meu fogão a lenha… Esse calor que me aquecia, que me tranquilizava, que me aconchegava continuamente…
Eu estava a trabalhar (tenho sempre muita coisa a fazer! E se não tenho, invento!) e o meu pai estava ao meu lado a ler o seu jornal, como diariamente faz… “Selma, mais assaltos em Gaia!”; passado uns minutos: “Olha mais!” e lia as notícias, de forma corrente, que acabavam por ser chocantes. Eu, satisfeita por estar nessa cidade há mais de um ano e não ter como que razões de queixa afirmei tal satisfação e senti-me, realmente, intocada com as notícias constantes do Correio da Manhã! Isto aconteceu numa quinta-feira, dia 18 de Novembro de 2010!
18, 19, 20… 21! 21 de Novembro de 2010! Das piores sensações que tive! Dos maiores arrepios por que passei! Do maior medo sentido por mim! Tive uma vontade imensa de desistir de tudo… Daqueles bens materiais que não o são apenas pelo valor monetário mas também pelo valor sentimental que desencadeiam em nós, seres vivos, enquanto membros deste mundo!
Dia 21 de Novembro, às 21:21 horas, senti medo! Senti raiva! Foi o “sentir tudo de todas as maneiras”, como Fernando pessoa, através de Álvaro de Campos, refere num dos seus magníficos poemas…
“O meu relógio!”
Senti-me tão indefesa, senti um muro cair sobre mim!
“Selma, porque é que a minha pasta está no chão?!”
Achava eu que ela já não sabia como deixava as coisas (uma vez que foi a última a sair de casa, e não eu)!
“Selma, porque está o armário aberto e tudo no chão?”
Quando entrei pelo corredor e vi a porta aberta foi uma sensação de… sei lá! Medo? Terror?
Tremi… Tremi muito! Chorei, Chorei muito… Temi, muito mesmo!
“Levaram-me o meu relógio, de certeza!
O telemóvel é o meu refúgio… Ligo para quem precisa de saber de tal acontecimento (Polícia) e ligo para os que adoro incondicionalmente, com a sensação de que poderia estar morta naquele momento, caso no dia anterior eu estivesse em casa e mostrasse silêncio aquando de uma possível tentativa de invasão!
“Assaltaram-me a casa!”
Não estou a exagerar, não estou a amplificar a história, não estou a inventar…
Aconteceu, e aconteceu comigo, em Vila Nova de Gaia! Aconteceu onde menos pensava que pudesse acontecer: no local onde mais protegida me sentia – em casa! Na minha casa!
Remexeram as minhas coisas! Os meus segredos, as minhas lembranças… Conhecem-me! Viram fotografias minhas e dos que amo… Viram tudo, tocaram em tudo… Nojo? Sinto um bocado! Náusea? Continuo a sentir! Raiva? Sim, sinto muita… Se sofro? Ainda, igualmente…
Deixei passar algum tempo até escrever este texto porque agora já consigo falar mais calmamente acerca deste acontecimento marcante na minha vida… Porque apenas quero dizer que pode acontecer com qualquer um (e não apenas com os outros).
No momento senti que nada fazia sentido, mas agora, e depois de muito pensar, levaram-me muita coisa mas poderia, efectivamente, ser pior… Como já disseram: “levaram os anéis mas ficaram os dedos”…
Sabem? Num momento adquirimos um bem… No outro esse valor é-nos retirado… Custa, mas há coisas bem piores…
A ultrapassar este susto é o que estou a tentar fazer… A ser forte é o que estou a tentar concretizar…
Sem anéis, sem fios, sem aqueles relógios, sem aquela caneta de prata, sem a bateria do computador, sem a máquina fotográfica, sem aquela lembrança dada pelo meu avô do FCP… Mas com o que me ficou, eu terei tudo de novo… Não por agora, não no futuro próximo, mas um dia… Um dia…
Por agora, fico com as fotografias tiradas por aquela máquina… Por agora, fico com as fotografias que mostram aqueles bens… Por agora, fico com a memória dos dias e da expressão que fiz ao receber aquelas peças como presentes…
Lembrança… Pura lembrança…
Um dia também ficarei apenas na lembrança de alguém… Um dia lembrar-se-ão de mim e dos momentos que proporcionei…
Um dia… Um dia… 


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A melodia deles…

Ele e ela tocavam no mesmo palco… Eles tocavam da mesma forma e a mesma nota… Eles faziam do som a sua felicidade… Havia, efectivamente, harmonia e vontade. Vontade de quê? De serem felizes um ao lado do outro. Eles amavam-se e queriam muito a presença um do outro; achavam não ser nada quando separados.
Ele e ela tocavam no mesmo palco… As notas que ambos davam eram suaves, representativas de carinho, de afecto, de… amor! Mas nem tudo o que é bom dura sempre e houve um momento em que algo mudou. As notas deixaram de ser as mesmas e o som surgiu distorcido, desafinado, não concordante… Ele dizia que a culpa era dela e ela dizia que ele é que não estava no tom… Discutiam, o que fazia com que as notas não fossem coincidentes, definitivamente.
Apesar disto, eles tentavam! Subiam ao palco e, dotados de esperança, tentavam de novo mas, de todas as vezes, a música já não soava da mesma forma. Apesar do palco ser o mesmo, o som e a harmonia mudaram, a coincidência deixou de existir. Tanta coisa se perdeu… E o instrumento de cada um começou a deixar de ter vontade de mostrar o quão bom se poderia tornar caso tentassem de novo e caso a nota a dar fosse, nova e continuamente, a mesma em ambos.
Mais uma vez tentaram mas nem nada de novo aconteceu. Tudo igual… Sempre tudo igual.
Chegou um momento em que ambos se separaram… Afinal, já não tinha sentido continuarem a tentar algo que se previa que não daria resultado.
E foi aí que ele deu um concerto… foi aí que ela actuou… Mas havia algo diferente… O palco! O palco era diferente… Não era o mesmo em ambos.
Se a música de cada um era bonita? Era, mas melancólica, triste… Não obstante, a nota que cada um dava era a nota a dar naquele contexto… Era a nota certa. A dele era a correcta, a dela também… Mas concordantes? Não sei dizer porque já não se ouviam mutuamente, já não tocavam em uníssono.
Afinal, o palco já não era o mesmo… Afinal, eles não eram inseparáveis… Afinal… Eles terminaram cada um com a sua música, para tentarem terminar uma melodia… Uma melodia simples, uma melodia única, uma melodia de cada um deles…
Quem sabe um dia possam fazer uma composição com a harmonia de cada um, mesmo que apenas se juntem para concretizar esse acto…
Afinal, nem tudo está perdido… Apesar disso, eles agora tocam em palcos diferentes e são rodeados por um público diferente, que tem opiniões divergentes.
Em palcos diferentes, é como eles actuam… É separados que eles estão… No entanto, recordam deleitados aquela actuação tão linda e mágica…



(Porque me pediram para retratar uma história de amor… Porque isto deve acontecer com alguém, certamente… Em 20 minutos retratei uma história de amor, que bem poderia ser a tua…)

domingo, 28 de novembro de 2010

Uma verdade desconhecida…

Não dizermos sempre o que queremos ou sentimos faz parte da condição humana… Está-nos intrínsecos, mesmo que digamos de umas vezes para as outras: “Nunca mais o farei”. A verdade é que muitas vezes sofremos desnecessariamente… A verdade é que nem sempre temos a coragem suficiente… A verdade é que a realidade por vezes custa… Mas, afinal, o que é a verdade? Ela nem sempre é a realidade, eu tenho a certeza. Por mais que me custe admitir… A realidade sim é a “realidade” que conhecemos. Confuso, não é? Aos vossos olhos mas aos meus, e a esta hora da noite, não… Tudo se tornou temporária e momentaneamente claro.
A verdade é tudo o que sai dos nossos corações ou das nossas cabeças? E a realidade? É algo que nos transcende… Eu acredito que há Alguém acima de nós… Eu acredito Nele! Mas não é isso que está em questão… A verdade, isso sim está a ser questionado por mim… Eu serei a verdade ou a realidade de alguém? Quem serei eu? A realidade é que sou um ser que respira mas… e a verdade? Qual a verdade da minha realidade e da minha existência? Meras palavras… Mera vontade de me descobrir… Mera vontade mas resta-me ser eu… Resta-me demonstrar a minha realidade.
Resta? Mas será isso pouco? Não… Trata-se da minha vida, trata-se de mim… Trata-se da minha identidade…
Uma vida, mil questões, mil acontecimentos, mil preconceitos, mil verdades, mil confusões, mil discussões, mil alegrias, mil tristezas, mil concretizações, mil desilusões, mil sorrisos, mil lágrimas, mil amigos, mil desconhecidos, mil fortunas, mil “1000’s”e uma só realidade… Que realidade? A única verdade concreta e definida… A única verdade considerada verdadeira…
Trata-se de uma realidade de verdades cíclicas…
Uma tontura nunca igualada, uma desordem organizada e uma correria sem igual...