sábado, 22 de junho de 2013

“Depois podemos falar melhor…”

Depois de tantos e-mails trocados, de tanta indecisão, de tanto pensar sobre o assunto, decidiu que o melhor seria mesmo comprar aquele apartamento. Precisava, definitivamente, de mudar.
Eram muitas as recordações que ela tinha, sempre que estava no espaço a que, normalmente, chamava de casa! Era tempo de mudar. Já faziam dois anos desde que se tinham separado, e não fazia sentido ela continuar a viver com aquele aperto, com aquela angústia, com aquele apego repugnante. Tinha de mudar!
Quando há uns anos atrás ela tinha decidido ficar com ele, mudar-se com ele, fazer daquela casa um lar, onde pudesse ver os filhos crescer e onde pudesse olhar o rosto dele todas as manhãs, tudo parecia fazer sentido.
Eram novos. Tudo era encantador. Tudo parecia dar certo. Tudo aparentava ser peças de um puzzle, que se encaixavam, sem grande dificuldade.
Mudou de emprego, para poder estar com ele, sempre que desejasse. Ele era a pessoa mais importante na vida dela. Resolveu viver uma vida onde apenas lhe interessava ser feliz.
Pareceu não dar certo. Três anos de uma vida a dois foram o suficiente para lhes mostrar que não eram felizes daquela forma. Ela mudou aquilo que o tivera feito apaixonar-se… Ele reprimiu o que a fazia vibrar a cada segundo… Ela passou a ser mais uma, e ele passou a ser banal. Ambos perderam o encanto porque, simplesmente, se desencantaram. Não foi um molde, um ao outro; foi mudança, definita e grosseiramente.
Ele saiu daquela casa. Tiveram de mudar, novamente. Havia um mundo lá fora. Ele não queria viver daquela forma, nem fazer com que a vivacidade dela se perdesse por… por comodismo. Separaram-se. Ele mudou de cidade, mudou o número de telemóvel, mudou o endereço de e-mail, mudou o emprego, deixou de ser tratado pelo seu primeiro nome, para que o tratassem por Carlos. Ela não insistiu em encontrá-lo.
Precisava, definitivamente, de mudar. Uma nova casa, numa outra cidade, num outro ambiente, naturalmente lhe iria trazer uma maior tranquilidade. É precisamente por isso que, depois de contactar o agente imobiliário, decidiu comprar aquele apartamento, com vista para o mar. As fotos que lhe tinham sido enviadas, a localização, o preço, tudo parecia uma oportunidade a agarrar. Decidiu. Escolheu.
Naquela manhã acordou com um sorriso, como há muito não acontecia. Sentiu que entraria numa nova etapa, onde tudo passaria a fazer sentido. Tratava-se da vida dela e da forma como ela a queria viver!
Saiu de casa, entrou no carro, colocou a morada no GPS e, passadas quatro horas, chegou ao destino. Saiu do carro, olhou ao redor. Era aquele ambiente que procurava, há vários anos.
“Dra. Carla…?”
“João?! Que fazes aqui?”
“Não sou mais o João com quem viveste… Sou o Carlos! Olá, bom dia, Como está…?”
“Mas…”
“Espero que tudo isto vá ao encontro do que deseja… Do que sempre desejou. Não a quero desiludir mais… Muito pelo contrário…”
“Mas…”
“Vamos ver o apartamento. Depois podemos falar melhor… Ao som das ondas, ao toque da brisa do mar, ao cheiro da praia, à luz do sol, ao sabor do reencontro!…”