Ela
estava sentada sobre aquela que considerava ser a sua aliada. Ouvia a música
que mais a fazia sentir indefesa e dicotómica. Olhava o relógio e reparava que
o tempo passava incomensuravelmente, e nada podia fazer em relação a isso. Quando
a música terminou, depois de 20 vezes de repetição, fez-se um silêncio. Naquele
momento, ela levantou-se e espreitou pela janela.
Estava
um dia cinzento, o vento soprava e a chuva caía frenética e cronometricamente,
como se de um relógio se tratasse e como se os segundos passassem a ser milésimos
deles. Eram 16 horas e pareciam as 20 horas daquele dia de inverno de dezembro.
O frio fazia sentir-se naquelas quatro paredes e a memória rebuscou momentos
antigos e marcantes.
“Incrível
como cada momento pode ser visto de forma diferente…”
A
luz artificial e reduzida daquele quarto não lhe transmitia a energia de que
ela tanto precisava, naquele preciso momento. Voltou a sentar-se mas continuou
a fixar o olhar no infinito!
Olhar
e não ver nada! Nada ouvir e tudo imaginar! Sentir e tentar ignorar!
“Há
uns meses este tempo fazia-me sentir tão bem…”
A
chávena de chá tinha arrefecido, tal como a forma calorosa de pensar nele, de
pensar em como estar com ele, de pensar em como se manter com ele, de pensar no
mundo à volta dele.
“Mas
já nada é igual. Só a chuva, que continua a cair desta forma. Só o frio, que penetra
no corpo. Só o inevitável destino traçado, que nos separou…”
As
bermas da estrada pareciam pequenos riachos, as pessoas estavam certamente
recolhidas em casa, tal como ela estava recolhida nos seus sentimentos.
“Mas
eu estou aqui… Eu continuo aqui… Não deixarei de estar tão cedo…”
Uma
lágrima rompe o rosto e ilumina os olhos dela.
“A
enviar mensagem”
“Mensagem
enviada”
Levanta-se
repentinamente e arrepende-se do que acabara de fazer. Pousa o telemóvel e
abraça-se de forma genuína à almofada que se encontrava sobre a cama.
Porque
dependendo da visão perante a vida, os acontecimentos parecem melhores ou piores,
maravilhosos ou catastróficos. A chuva, que parecia maravilhosa quando estava
abraçada a ele, tornara-se a sua maior inimiga, ao relembra-la daqueles
momentos em que nada mais interessava, porque o abraçava. O frio, que apenas
era mais uma razão para lhe pedir para que a abraçasse calorosamente, tornou-se
o maior obstáculo para a sua espiritualidade. O ambiente escuro, que outrora a
fizera sentir acolhida, tornara-se no maior abandono para ela.
O
telemóvel vibrou.
“Um
dia vais perceber que eu sempre estive aqui, que eu continuo aqui, e que indefinidamente
vou continuar … Hoje é o dia!”
Um
frio caloroso, uma claridade momentânea, uma tempestade de amor…