sexta-feira, 29 de junho de 2012

“Pode ser concertado…”

Sentada na areia, olha o mar deslumbrante… Sente o ar fresco e ouve aquele som que mais a tranquiliza.
Um vazio! Subitamente, é o que sente! Finalmente uma paz a contempla, a invade, a circunda, a atravessa profunda e fortemente.
Nada a impedia de estar tranquila, naquele momento! Nada a proibia de sentir a maravilha daquele instante, a sensação de liberdade, de independência, de invisibilidade.
No meio de toda a abstração, sente o telemóvel tocar. Não lhe importa… “Se for importante, que liguem mais tarde”, pensa.  
Os pensamentos, por momentos, não a atormentam, e sente uma paz interior que há já muito não sentia. O telemóvel volta a tocar… Mesmo assim, não quer que nada lhe estrague aquele momento. Rejeita olhar o visor. Ao invés disso, levanta-se e caminha em direção às ondas calmas, curtas e pacíficas…
Sente a frescura da água do mar nos pés, molha as mãos e de seguida a face, como que se ao passar aquela água na cara, todos os problemas ficassem para trás… Como se aquele momento conseguisse apagar tudo o que estava para trás das suas costas… Como se aquele gesto a fizesse reviver tudo, mas de maneira diferente!
Caminha e sente os problemas voarem em sua direção. As lágrimas confundem-se com a água também salgada, e toda ela se sente derrubada e a desfalecer cada vez mais.
Sente a vibração sob os seus pés e, involuntária e subitamente, vira-se…
“Disseste que o tempo curava tudo…”
“Que fazes aqui?!”
“Que importância isso tem?”
“Como me encontraste? Como soubeste onde eu estava?”
“Não atendeste o telemóvel… Onde mais poderias estar?”
“Porque vieste até aqui?”
“Isso não importa! Porque me mentiste?”
“Desculpa se o tempo não curou algo que foi mal remediado…”
“…Mas pode ser concertado, agora…”
Aquele sopro, aquela imensidão… Aquele momento em que tudo passa a fazer sentido…