sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Caminhos cruzados

“Dizes algo quando chegares?”, “Sim, claro! Mal chegue ligo-te!”.
Ela entrou no comboio para mais uma semana, pronta para mais desafios, pronta para continuar a sua vida. Cansada, vestindo leggins e uma t-shirt comprida, calçando umas sandálias confortáveis, apresentando-se com o cabelo solto e húmido e fazendo-se acompanhar pela sua mala, senta-se no primeiro lugar que avista.
“Posso sentar-me aqui?”, ”Claro que sim!”.
O comboio parte e a sua mão faz aquele movimento inevitável de quando nos separamos de alguém…
Montes, casas, caminhos… O sol a pôr-se, as saudades a apertarem, o pensamento activo, o desconhecimento a provocar agitação. A passagem do tempo deixa marcas, lacunas, nódoas, apesar de as tornar pouco visíveis... Afinal, nem tudo é negativo!  
Observa-o e sente algo estranho. Era bonito, alto e tinha um ar muito simpático. Subitamente, repara que ambos estão posicionados da mesma forma: pernas esticadas, braços cruzados, cabeça para trás, telemóvel pousado na perna direita… Ambos relaxados, ambos a observar a paisagem deixada para trás, ambos melancólicos, ambos pensativos…
Ele observa-a disfarçadamente. Sente que ela é diferente e tenta dizer qualquer coisa. Porém, o máximo que consegue fazer é manifestar uma tosse seca e forçada!
A esta altura passam imensas imagens pela cabeça dela… Uma espécie de resumo da sua vida, do tempo que desperdiçou, dos medos que encarou, das situações que enfrentou, do rosto daquelas pessoas que a marcaram, dos momentos inesquecíveis, das promessas incumpridas, das surpresas com que se deparou…
Sem que se apercebessem da passagem do tempo, ele chega ao destino. Retira um papel e uma caneta do saco que tem consigo, escreve algo, dobra o papel, levanta-se do banco, entrega o papel a ela e, sorrindo, sussurra: “Vê apenas quando não me avistares!”
O comboio entra em movimento. Sente nervosismo, sente uma mistura de sentimentos. Cumprido o desejo dele de apenas desembrulhar aquele papel quando não o avistasse, sorri quando vê um número de telemóvel e quando termina de ler o que ele escreveu.
“«Dizes algo quando chegares?» Agora, só me resta que respondas silenciosamente a esta minha questão da mesma forma que respondeste a quem te acompanhou à estação…”
Destino? Caminhos cruzados…