terça-feira, 17 de maio de 2011

Ser, pensar, sentir...

              O tempo passa incomensuravelmente… Quer se trate de um dia, de um mês, de um ano, de uma década… 
              “De que serve? O que é que tem que servir?”
              Prepara-se aquele dia durante meses, espera-se pela sua chegada durante anos e o tempo parece abrandar aquando da aproximação daquela data… Mas tudo isto passa com o mesmo espaçamento… O tempo não passa de algo que é concreto e, simultaneamente, abstracto. Ele é tudo, consegue tudo, conquista tudo, cura tudo, proporciona a maioria dos acontecimentos, controla-se a si próprio!
              Que inveja ela tem dele… Que inveja ela tem do tempo! Queria poder controlar tudo e poder destinar, de antemão, o que fazer durante a sua passagem…
              “Pálido esboço leve”
              Hoje, como que desperta de um sono profundo, fez uma retrospecção aos seus últimos anos, às suas últimas experiências… Encontrava-se sentada numa cadeira que de confortável tinha muito pouco (ela por si só já não se sentia no auge do conforto, consigo mesma!) e ouvia uma pessoa falar constantemente acerca de um tema que de nada lhe importava para aquele tempo. Parou, pousou a caneta que tinha na mão, deixou-se descair na cadeira e abstraiu-se daquele momento que parecia não querer terminar. Tal como Fernando Pessoa dissera, “Cansa ser, (…) pensar destrói.” e ela estava cansada de ser o que tinha de ser naquele momento (manter-se minimamente formal), mas pensar em tudo o que tinha feito até então também a destruía, de certa forma!
              Depois de se deixar descair pela cadeira, colocou a mão em frente à cabeça como se lhe faltasse a força até mesmo para segurar aquela parte do corpo; fechou os olhos e começou a pensar em tudo e de todas as possíveis formas.
              Se chegou a alguma conclusão? Questões, mais questões, mais questões… Foi tudo o que sobrou do pensamento dela…
              “Será que foi tempo perdido? Ou será que foi tudo uma aprendizagem? Será que as pessoas que entraram na minha vida nos últimos anos o fizeram por alguma razão pré-definida? Será que estava predestinado? Teria de ser assim? Serei eu o laboratório dos cientistas ou o palco dos artistas? Será que este pensamento é, também, uma perda de tempo? Será que nada é perda de tempo?”
              “Do sol de inverno sobre meu leito a sorrir...”
              Soltou um suspiro como que a tentar libertar o que a consumia. Era um sentimento inefável… Algo que ela queria explicar mas não conseguia… Algo que ela queria mudar mas sem êxito… Afinal, ela não conseguia tudo o que queria…
              “Então… Que se passa?”, “Isto passa, tudo passa… Obrigada!”
              Levantou a cabeça, recompôs-se na cadeira, pegou de novo a caneta e voltou ao mundo que ela queria evitar, a todo o custo, naquele momento…
              “Vago sussuro breve.”
              “Tempo… Volta atrás e deixa-me reviver o que eu quiser, apagar o que eu desejar, sentir o que eu pretender… Ou, pelo menos, deixa-me acreditar novamente que tudo fazes, que de tudo és capaz… até de apagar o que me magoa…”
              Não cansa apenas ser, não destrói apenas pensar… “Sentir Dói”. 


sábado, 14 de maio de 2011

Visões

Ela olhava pela janela como se o mundo tivesse surgido naquele momento… Encantada com meros montes, meras árvores, meras ventoinhas… Elas moviam-se ao ritmo daquela música; moviam-se como ela se tentara mover dos locais com demasiada entropia para os calmos e serenos.
O sol brilhava (apesar dos ponteiros do relógio já demonstrarem 19:40 horas) e a sua imaginação saltava de terreno em terreno, de ramo em ramo, de pedra em pedra. Nada mais interessava naquele momento; tudo se tornara, súbita e rapidamente, acessório e desmotivante. O sol brilhava mas a lua não estava presente… Escondera-se durante umas horas e era o que ela queria fazer, precisamente, naquele momento. Dava por si a pensar no quão importante e bom seria para ela parar no tempo, já que retroceder se tornara ainda mais impossível (na verdade, a impossibilidade é exactamente a mesma!).
O telemóvel toca e desperta-a para o mundo… Desperta-a e, por momentos, vários pensamentos surgem; pega nele, observa o que diz no visor… “Pai a chamar”.
“Onde estás? Ainda demoras muito, querida?”, “Não paizinho, não te preocupes, às 20 horas já lá devo estar…”, “Então daqui a pouco saio para te ir buscar.”, “Está bem… até já! Beijinho.”
A chamada já tinha sido interrompida e ela fica a olhar para o visor apagado – tal como ela se estava a sentir… Permanece imóvel como se nada importasse. Volta aos seus breves pensamentos que a mantêm viva, erguida, desperta.
O sol continua a brilhar, mas cada vez mais se nota a diminuição do contraste…
Ela continua a desejar parar no tempo, na vida, nos pensamentos que a atormentam. Como queria voltar atrás e impedir que muita coisa acontecesse…
Mas a vida é mesmo assim, não é? Já Saramago afirmava: "Se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar.”
Crescer, florescer, aprender, lidar… Chorar, sorrir… Cair mas levantar…
Porque a visão de hoje pode não ser a mesma da de amanhã…



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Dicotomia, unicidade, pluralidade…

Ela abre a janela como que obrigada a isso… Ela sente que o ar daquele quarto não chega para tudo aquilo que ela necessita de insuflar… Olha o céu e tudo lhe parece único, ideal, novo, inédito! Nada mais existe para ela, naquele preciso momento… A lua não é vista, mas a imensidão do seu poder é sentida por ela. Ela sente-se tal como a lua, pois apesar de acompanhada pelas estrelas necessita da companhia da sua grandiosa fonte de alegria, de luz, de calor.
Fecha a janela… Faz vento lá fora! Tudo o que vê surgira naquele momento, tudo o que sente surgira naquele instante, tudo o que pensou fora original, extravagante, singelo, despretensioso… Um mundo lá fora, um mundo dentro, um mundo dentro de si e, simultaneamente, um buraco negro.
“Como estás, pequenina?”, “Queria muito dizer-te que estou bem, que sou forte, que supero tudo, mas tal não acontece….”
Tudo o que sente é dicotomia de sentimentos, sensações, sentidos… Unicidade de silêncio, escuridão, olhar… Pluralidade de desejos, forças, lágrimas…
“Que se passa contigo? Porquê que estás assim? O que te atormenta?”, “O facto de não andar atormentada até agora, o facto de o desejo se ter tornado em posse, o facto de ter de angariar aquela força…”, “Mas já o tiveste de fazer antes… A vida é mesmo assim…”, “Pois é, o que não me faz sentir melhor…”, “Mas sabes que estarei aqui para tudo?”, “Sei que estás sempre para tudo… Não seria excepção…”
Apaga a luz, sente a escuridão profunda, sente aquele som permanente, aquele murmúrio…
Resta-lhe a imaginação, o sentimento, a mente… Dicotomia, unicidade, pluralidade…