O tempo passa incomensuravelmente… Quer se trate de um dia, de um mês, de um ano, de uma década…
“De que serve? O que é que tem que servir?”
Prepara-se aquele dia durante meses, espera-se pela sua chegada durante anos e o tempo parece abrandar aquando da aproximação daquela data… Mas tudo isto passa com o mesmo espaçamento… O tempo não passa de algo que é concreto e, simultaneamente, abstracto. Ele é tudo, consegue tudo, conquista tudo, cura tudo, proporciona a maioria dos acontecimentos, controla-se a si próprio!
Que inveja ela tem dele… Que inveja ela tem do tempo! Queria poder controlar tudo e poder destinar, de antemão, o que fazer durante a sua passagem…
“Pálido esboço leve”
Hoje, como que desperta de um sono profundo, fez uma retrospecção aos seus últimos anos, às suas últimas experiências… Encontrava-se sentada numa cadeira que de confortável tinha muito pouco (ela por si só já não se sentia no auge do conforto, consigo mesma!) e ouvia uma pessoa falar constantemente acerca de um tema que de nada lhe importava para aquele tempo. Parou, pousou a caneta que tinha na mão, deixou-se descair na cadeira e abstraiu-se daquele momento que parecia não querer terminar. Tal como Fernando Pessoa dissera, “Cansa ser, (…) pensar destrói.” e ela estava cansada de ser o que tinha de ser naquele momento (manter-se minimamente formal), mas pensar em tudo o que tinha feito até então também a destruía, de certa forma!
Depois de se deixar descair pela cadeira, colocou a mão em frente à cabeça como se lhe faltasse a força até mesmo para segurar aquela parte do corpo; fechou os olhos e começou a pensar em tudo e de todas as possíveis formas.
Se chegou a alguma conclusão? Questões, mais questões, mais questões… Foi tudo o que sobrou do pensamento dela…
“Será que foi tempo perdido? Ou será que foi tudo uma aprendizagem? Será que as pessoas que entraram na minha vida nos últimos anos o fizeram por alguma razão pré-definida? Será que estava predestinado? Teria de ser assim? Serei eu o laboratório dos cientistas ou o palco dos artistas? Será que este pensamento é, também, uma perda de tempo? Será que nada é perda de tempo?”
“Do sol de inverno sobre meu leito a sorrir...”
Soltou um suspiro como que a tentar libertar o que a consumia. Era um sentimento inefável… Algo que ela queria explicar mas não conseguia… Algo que ela queria mudar mas sem êxito… Afinal, ela não conseguia tudo o que queria…
“Então… Que se passa?”, “Isto passa, tudo passa… Obrigada!”
Levantou a cabeça, recompôs-se na cadeira, pegou de novo a caneta e voltou ao mundo que ela queria evitar, a todo o custo, naquele momento…
“Vago sussuro breve.”
“Tempo… Volta atrás e deixa-me reviver o que eu quiser, apagar o que eu desejar, sentir o que eu pretender… Ou, pelo menos, deixa-me acreditar novamente que tudo fazes, que de tudo és capaz… até de apagar o que me magoa…”
Não cansa apenas ser, não destrói apenas pensar… “Sentir Dói”.