sábado, 29 de janeiro de 2011

Uma realidade obscura

Eles conversavam, riam-se juntos, divertiam-se… A amizade era grande e a vontade de estarem juntos era ainda maior. A boa disposição tomava conta deles, o carinho cercava-os, a harmonia era um facto na “relação” deles.
Ela, realmente, via-o como um grande amigo e sentia que se algo se passasse com ela, esse amigo estaria sempre por perto. Por este facto, talvez deixasse que as coisas avançassem de uma forma que não se apercebia, de uma forma que não controlava; encarava a situação normalmente pois, afinal de contas, era uma grande amizade que os unia.
            Há amizades e amizades, há carinho e carinho, há afecto e afecto. Há designações iguais perante situações diferentes, perante pessoas diferentes, perante opiniões e espiritualidades diferentes. Há sempre de tudo um pouco, e há sempre algo que se pode acrescentar (mesmo que, firmemente, não se queira); há momentos em que tudo conta, em que o silencio se torna mais importante que um diálogo vincado, em que um olhar explica o que se está a sentir, em que um toque demonstra o que está por detrás daquele impulso.
O que importa é o sentir, o deixar sentir, o querer sentir… O que importa é tudo isto, e tudo o que mais pode existir.
            Ela não se apercebia do quão envolvido ele estava, no quão importante ela se estava a tornar para ele, no quanto significava na sua vida. Ela já era tanto, e ele, um amigo verdadeiro, uma boa pessoa. Amizade, amizade, amizade.
            Naquela noite ele decidiu que aquilo não poderia continuar assim. Aquele fim não era o que ele queria… Queria mais, muito mais. Queria ser mais do que um mero amigo; queria dar mais do que um carinho momentâneo, um beijo oportuno, um toque ocasional.
            Seguiu-a até casa, sem que ela se apercebesse… Tentou abordá-la quando ela abriu a sua bolsa para retirar a chave de casa, mas não conseguiu. Entrou no carro, vagueou nos seus pensamentos… Arrancou e decidiu que não poderia continuar naquele impasse. Dirigiu-se à florista mais próxima, comprou um lindo ramo de orquídeas e decidiu que, após o jantar, iria a casa dela dizer tudo o que estava a sentir, demonstrar-lhe o quão importante ela se tivera tornado.
            Dirigiu-se, então, pela segunda vez a casa dela. Sentiu que seria a hora certa. (Hora certa? Mas hora certa de quê? Pergunto isto porque já sei como as coisas se vão desenrolar…)
            Buzinou vezes suficientes para a fazer abrir a porta com a finalidade de ver o que se estaria a passar… Espreitou para fora, ele saiu do carro juntamente com aquelas flores lindíssimas… Ele disse que não poderia esconder mais o que sentia, que não fazia sentido viver sem que afirmasse que, efectivamente, a amava…
            “Amor, afinal de contas quem é que está a buzinar?”
            Ela deita uma lágrima e diz ao seu mero “amigo”: “Volta para casa! Falamos depois.”


sábado, 1 de janeiro de 2011

Florescer com ela…

Estou deitada… Não oiço um carro, não oiço um grito, não oiço um suspiro, não oiço um riso, não oiço uma palavra, não oiço um sopro! Não oiço…
Estou pensativa… Não vejo luzes, não vejo carros, não vejo pessoas, não vejo sorrisos, não vejo lágrimas! Não vejo…
Tento concentrar-me em algo… Em algo que não existe! Em algo que me transcende… Tento concentrar-me numa pessoa… Naquela pessoa que imagino mas que não existe ou que pelo menos não existe comigo! Tento, simultaneamente, abstrair-me desta reflexão e pensar em mim! Só em mim! Mas não dá… Não quero! Assim, não quero!
Quero mais… Bem mais do que apenas uma mera personagem! Quero um diálogo! Não estou interessada em monólogos… Quero um toque de magia, um sinal, uma amostra do que pode vir a ser uma vida! Quero um sorriso, um olhar, um realce daquilo que pode ser uma perfeição!
Quero sentir aquelas ondas à medida que o sol me aquece! Quero enrolar-me na areia e ficar molhada! Quero enrolar-me na água e ficar seca! Quero ver-te, minar-te. De longe, de perto, ao vivo, na televisão, a cores, a preto e branco – afinal, qual a cor da felicidade? –, a rires, a chorares, a olhar-me, a imaginar-me, a afigurar-me, a idealizar-me… Seja de que forma for! Eu quero ver-te!
Quero sentir calor, quero sentir frio, quero sentir arrepios, quero sentir-me protegida, quero proteger, quero tudo! Quero tudo, seja de que forma for…
Quero ânimo, família, amor, carinho, aconchego, paz… Quero ser eu! Acima de tudo não quero deixar de ser quem sou… Quero que alguém leia este texto e o interprete correctamente – e que não faça um filme digno de cinema ou redija um livro que se torne um best-seller! –, quero que o vejam com a mente aberta…
Quero brilhar, quero escurecer quando assim tiver de ser, quero que me chamem à razão, quero que sejam sinceros comigo, quero que, acima de tudo, saibam da minha existência e do poder que posso adquirir e sentir em determinado momento!
Quero tudo o que tenho tido e mais alguma coisa… Desejo que leias este texto e te arrepies… Tu, ele, ela, aqueles, aquelas… Aqui, ali, além! Desejo que idealizes cada situação da tua vida em que te sentiste fraco, forte, alegre, triste, sensato, sensível… Quero que analises a tua vida como um todo, como uma maravilha sem fim mas, ao mesmo tempo, como um lugar onde facilmente podes cair…
Mas, querer é fácil? Será que é? Não… Já é tanto… E é por isso que escrevo! Porque quero mais, porque quero tanta coisa que nem sei o que desejo em primeiro!
            Estou a recordar-me daquela lágrima que caiu sem eu dar licença, daquele abraço que me foi dado sem que eu o idealizasse, daquele sorriso que me foi dado, daquela dor que senti, daquela desafinação, daquela afinação, daquele pedido que me foi feito, daquela palavra mal dada, daquele ombro amigo, daquela chamada contínua, daquela chamada momentânea, daquela chamada que não existiu, daquela maneira de me tratar, do “Selminha”, do “madrinha”, do “maninha”, do “meu anjo”, do “pequenina”, do “mokinhas”, daquele sono que não vinha (nem vem!), daquele toque, daquela explicação, daquele olhar, daquela luz que não apareceu, do amanhecer daquele dia, do anoitecer… Para além de tudo isto, estou a lembrar-me das surpresas constantes, das mensagens encorajadoras, das palavras arrepiantes… Estou a recordar-me de tantos momentos… De momentos em que tu, muito provavelmente, participaste!
            Aqui estou eu… A divagar? A entristecer? A empobrecer? Não… Estou a reflectir e estou contente por tudo o que tenho passado…
            Ainda oiço o silêncio (afinal, oiço alguma coisa…)! É algo bom de se ouvir em determinados momentos da vida! Dou-me bem com ele! E quero dar-me bem com todos os odores da vida, com todos os espinhos do futuro, com todos os sarilhos do passado, com todos os instantes do presente…
            Quero aquela semente na minha mão! Quero florescer com ela…