terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Existência

“O que vês?” “Para além das árvores despidas? Do céu nublado? Da claridade obstruída? Das estradas molhadas? Do fumo a sair das chaminés? E das pessoas encasacadas?” “Sim, para além disso, para além da calçada escorregadia e escondida, para além das noites estreladas e frias, para além das noites nubladas e húmidas…” “Para além de tudo isso vejo o desconhecido, vejo o inatingível… Sinto falta da firmeza, da certeza, da sensação de que tudo correrá da melhor forma e com a melhor pessoa…” “Não consegues ver uma luz?” “Negra, é a única que vejo…” “Sabes, a imaginação influencia muito a visão…” “Sei disso tão bem… Para mim, todos os sentidos me influenciam… Sou, pura e simplesmente, dominada por eles. Só eles me levam até onde quiserem… Eu oiço aquela música, sinto aquele perfume, vejo aquela imagem e consigo saborear cada momento passado e tocar em cada parte dele…” “Tudo porque imaginas?” “Não... Tudo porque sinto… Tudo porque me rejo pelo «sentir tudo de todas as formas».” “E se te tentares abstrair de um dos sentido?” “Sentirei os outros em dobro! Se fechar os olhos enquanto estiver a ouvir aquela música, mais vincada será a recordação… Se fechar os olhos enquanto estiver a cheirar aquele perfume, mais marcante será aquela lembrança! Se…” “E se te abstraíres de todos eles?” “Se o fizesse deixaria de ser eu… Se o tentasse fazer perderia toda a minha essência…” “Mesmo que o não o fazeres te faça sofrer?” “Mesmo que sofrer seja tudo o que me resta! Se a minha sina é essa, então que o seja… Nada farei para mudar…” “Acreditas nisso?” “Acredito… Acredito no destino!” “Mas…” “Mas, neste momento, tudo o que quero é sentir!” “E o resto?” “Que resto? Eu resumo-me a sentidos! Não há excedente possível!” “Então, por favor, apercebe-te da minha existência! Ouve-me, vê-me, cheira-me, toca-me, saboreia-me…”

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Explosão de cores


A janela estava aberta, as portas estavam encostas, a sua mente estava fechada. O pensamento era mais confuso do que nunca, e nenhum pensamento introduzido servia para arrumar a confusão que se encontrava dentro da sua cabeça. Sentia um arrepio, um aperto forte, uma vontade desesperada de sair pela porta, rumo ao desconhecido. Nada a tranquilizava! Aquele sofá? Já não o podia ver! Aquela cama? Já não a podia imaginar! Aquele aroma? Já não o podia sentir! E o aconchego do lar? Já não lhe chegava… Queria sentir algo, queria fugir, queria ser de outra forma, mostrar-se forte, sentir-se outra, sendo a mesma… Dicotomia de sentimentos, de pensamentos, de emoções, era tudo o que tinha naquele momento.
Não sai, não foge, não se esconde. Ao invés disso, arreda a cortina e espreita para fora… Tenta olhar a linha do horizonte, mas tudo o que consegue é ver um nevoeiro, que a impede de visualizar a luz!
Tal e qual como se passava na cabeça dela, naquele momento! Ela queria ver, mas não podia! Onde estava o clarão de que tanto precisava? Onde estavam as respostas às suas questões? Onde estava a sua felicidade total?
O nevoeiro persiste, mas ela também o faz… Mantém-se a olhar para fora, na esperança de sentir algo de diferente! Na esperança de ver a luz, aquela luz por que tanto esperava e ansiava! O tempo passava mas a esperança não se perdia, a paciência permanecia, a dicotomia de sensações insistia ainda mais.
Uma gota, outra… Começa a chover… De repente, sente um movimento de um carro, a aproximação de alguém (alguém que decidiu fugir, sem saber bem o que fazer?). Ela abstrai-se e recai sobre os seus problemas.
Alguém bate à porta… Inevitavelmente teve de interromper o seu pensamento…
“Tinha de vir… Não aguentava a tua ausência por mais um minuto!” (Ou alguém que sabia muito bem o que procurava…)
“Já te disse que te adoro?”
E um arco-íris surgiu, inevitável e espontaneamente… Uma explosão de cores!


sábado, 29 de outubro de 2011

Porque ele é capaz de tudo…

O que ele é capaz de fazer a qualquer ser que respira, que vive, que sente, que imagina, que idealiza…
Sim, ela acordou de um sono profundo… Abriu os olhos e sentiu-se como há já muito tempo não se sentia. Imaginava cada momento, cada sensação tida, cada instante em que perdeu o fôlego, em que perdeu a capacidade de pensar, a capacidade de reagir, a capacidade de negar… Cada pedaço de tempo em que o seu coração palpitava, em que o seu coração batia forte e cada vez mais forte… Recordava cada gesto, cada sorriso, cada olhar, cada toque, cada expressão, cada movimento. Era como se estivesse a reviver aquela circunstância, naquele preciso momento, naquele preciso local.
Ele é mesmo capaz de tudo… Abalar, fazer chocar, fazer chorar, fazer reflectir, fazer rir, fazer falar, fazer ser, fazer sentir… E, por isso, ela estava a imaginar tudo o que tinha acontecido, fosse da forma que fosse…
Ele também é capaz de fazer acreditar, de motivar, de trazer a felicidade de volta…
O tempo passa, ela sai de casa e sente um friozinho no rosto. No entanto, nem ele é capaz de arrefecer o que ela sente, depois de o ter tido. Um carro passa e a água contida na estrada, pelo mau tempo que se fazia, atinge-lhe o corpo. Mas não, nem isso esfriou o pensamento que trazia na sua mente.
Ele tem mesmo um poder fundamental e extraordinário… E é por isso que ela se sente tão bem, nem que seja apenas por breves instantes. Mas, até aquele pensamento persistir, ela vai ser feliz e vai olhar para a vida a sorrir.
O telemóvel toca e a esperança instala-se, ela pára no local em que se encontra, o coração bate mais forte, o sorriso surge natural e espontaneamente, o fôlego cessa e o movimento de atender a chamada aparece sem que ela se aperceba. “O que queres?”, “Apenas uma segunda oportunidade… Acredita que é a única que preciso para te fazer feliz”.
O que ele é capaz de fazer a qualquer ser que respira, que vive, que sente, que imagina… Que sonha!
“Espero que a aproveites bem… Às 22 horas, em minha casa.”, “Lá estarei…”
Porque o sonho é capaz de tudo… E sim pode realizar-se… A qualquer momento, a qualquer minuto, a qualquer segundo…


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Caminhos cruzados

“Dizes algo quando chegares?”, “Sim, claro! Mal chegue ligo-te!”.
Ela entrou no comboio para mais uma semana, pronta para mais desafios, pronta para continuar a sua vida. Cansada, vestindo leggins e uma t-shirt comprida, calçando umas sandálias confortáveis, apresentando-se com o cabelo solto e húmido e fazendo-se acompanhar pela sua mala, senta-se no primeiro lugar que avista.
“Posso sentar-me aqui?”, ”Claro que sim!”.
O comboio parte e a sua mão faz aquele movimento inevitável de quando nos separamos de alguém…
Montes, casas, caminhos… O sol a pôr-se, as saudades a apertarem, o pensamento activo, o desconhecimento a provocar agitação. A passagem do tempo deixa marcas, lacunas, nódoas, apesar de as tornar pouco visíveis... Afinal, nem tudo é negativo!  
Observa-o e sente algo estranho. Era bonito, alto e tinha um ar muito simpático. Subitamente, repara que ambos estão posicionados da mesma forma: pernas esticadas, braços cruzados, cabeça para trás, telemóvel pousado na perna direita… Ambos relaxados, ambos a observar a paisagem deixada para trás, ambos melancólicos, ambos pensativos…
Ele observa-a disfarçadamente. Sente que ela é diferente e tenta dizer qualquer coisa. Porém, o máximo que consegue fazer é manifestar uma tosse seca e forçada!
A esta altura passam imensas imagens pela cabeça dela… Uma espécie de resumo da sua vida, do tempo que desperdiçou, dos medos que encarou, das situações que enfrentou, do rosto daquelas pessoas que a marcaram, dos momentos inesquecíveis, das promessas incumpridas, das surpresas com que se deparou…
Sem que se apercebessem da passagem do tempo, ele chega ao destino. Retira um papel e uma caneta do saco que tem consigo, escreve algo, dobra o papel, levanta-se do banco, entrega o papel a ela e, sorrindo, sussurra: “Vê apenas quando não me avistares!”
O comboio entra em movimento. Sente nervosismo, sente uma mistura de sentimentos. Cumprido o desejo dele de apenas desembrulhar aquele papel quando não o avistasse, sorri quando vê um número de telemóvel e quando termina de ler o que ele escreveu.
“«Dizes algo quando chegares?» Agora, só me resta que respondas silenciosamente a esta minha questão da mesma forma que respondeste a quem te acompanhou à estação…”
Destino? Caminhos cruzados…


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sei tudo isso a que te referes…

“Sabes quando queres seguir aquele percurso mas, sem te aperceberes e rapidamente, escolhes aquele que é o aposto ao que tu queres? Sabes quando tu queres dizer sim, e dizes não? Sabes quando queres sair por aquela porta mas acabas por entrar por ela? Sabes quando queres respirar e parece que te falta um básico balão de oxigénio? E sabes qual a sensação de quereres acender uma luz mas acabares por apagar todas as luzinhas que te rodeiam? Sabes o que é quereres comer e acabares por pegar numa garrafa de água? E sabes o que é amar e dizer que odeias? Sabes o que é apontar para o céu desejando o inferno? Sabes o que é olhar uma paisagem magnífica e parecer que estás a olhar para o abismo? Sabes o que é quereres libertar-te e continuares presa? Sabes…”
“Sei…! Sei o que é querer acordar e, apesar desse desejo, continuar com aquele pesadelo. Sei o que é querer caminhar e não conseguir levantar-me. Sei o que é querer falar e faltarem-me as palavras. Sei o que é querer olhar e acabar por desviar os olhos para o lado oposto. Sei o que é querer chorar e sorrir. Sei o que é querer desabafar e, apesar disso, deixar tudo para de mim. Sei o que é desejar a felicidade e não a ter. Sei o que é querer ver o dia e apenas embater com a noite. Sei o que é pensar em tudo e, simultaneamente, não pensar em nada. Sei…”
“Sabes mais do que aquilo que eu pensava que soubesses… Mas certamente não saberás o que é quereres beijar alguém e não poderes. Seguramente não saberás o que é desejar alguém e não poderes ter essa pessoa. Evidentemente não saberás o que é não conseguir adormecer. Decididamente não saberás o que é sofrer por amor…”
“Sei tudo isso a que te referes… E sabes porquê? Porque sei o que é querer beijar-te e não poder. Porque sei o que é desejar-te e não te poder ter. Porque sei o que é não adormecer por te ter no pensamento. Porque sei o que é sofrer por ti…”



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Era uma vez...

Era uma vez uma estrada, uma única estrada. Ela percorria-a sem qualquer dúvida, sem qualquer receio, sem qualquer desconfiança… Afinal, apenas tinha aquela opção. Percorria-a naturalmente, a uma velocidade constante. Afinal, aquela estrada não a iria surpreender, porque era apenas uma, era única, inofensiva! Nenhum obstáculo, nenhuma lacuna pelo meio, nenhuma perturbação pela berma, ninguém a mandá-la parar ou a mostrar-lhe outro caminho (afinal, a esta altura, não havia outra opção).
Monótono? Fácil de mais? Aborrecido? Maçador?
Era uma vez uma estrada, uma única estrada. Ela caminhava tranquilamente. A certa altura, espontânea e momentaneamente, surge algo que ela desconhece. Admirada e assustada, fica sem saber como reagir, como actuar perante aquela situação!
Parecia que tudo decorria sem problemas, sem sombra para preocupação, quando, de repente e sem explicação imediata, ela é surpreendida!
Uma bifurcação. De uma bifurcação, é do que se trata. A vida dela deixa de ser linear, contínua, sem escolha!
Tinha chegado a altura de ela optar! E tinha de ser naquele momento. Afinal, depois de passada essa ramificação, não poderia voltar atrás… Seria irreversível.
Lamentável? Preocupante? Injusto? Inquietante?
Era uma vez uma estrada, com uma bifurcação. Ela teve de optar…. E acabou por escolher um dos caminhos.
Era uma vez um desvio. E ela teve de fazer esse desvio…
A vida é mesmo assim… Umas vezes porque não temos opção, pois apenas temos uma estrada pela frente, outras vezes porque temos de escolher, pois existem várias opções, e ainda outras em que, impreterivelmente, se tem de optar por algo que, mesmo que não pareça o melhor, é o que tem de ser feito.
Afinal, apesar de não haver uma explicação imediata para o aparecimento daquele obstáculo, daquela novidade, daquela bifurcação, a explicação existe! Ela optou… Ela percorreu o caminho que escolheu… Perante essa escolha, acarretou com o desvio.
Destino? Propósito? Sina?
Seja o que for… Se é um objectivo? Não se sabe… Se é o caminho para a felicidade? Ainda se virá a saber…
Era uma vez uma vida, uma escolha, vários caminhos, mas um só final…


domingo, 24 de julho de 2011

Olhar o céu… Contemplar as estrelas…

Sem saber como agir, sem saber como reagir a todas aquelas mudanças, sem saber como olhar nos olhos das pessoas, sem saber como recordar o passado, sem saber como imaginar o futuro, sem saber viver devidamente o presente, decidiu que o melhor que tinha a fazer, naquele preciso momento, seria, pura e simplesmente, olhar a noite e contemplar as estrelas. Foi mesmo isso que ela fez…
Está sentada, no alpendre da casa, numa cadeira confortável; o ambiente é acolhedor e, por isso mesmo, ela acolhe a sua alma, acolhe os seus desejos, acolhe os seus pensamentos (únicos e secretos), pensa nos seus sonhos…
Levanta a cabeça, tantas estrelas! Parecem tão próximas e estão tão distantes. Isso também já aconteceu consigo, outrora. Sentira-se perto da felicidade e do clímax do ânimo, no entanto, essa proximidade não passara de uma ilusão! De uma ilusão de óptica... Mas, pensar que se está próximo não é assim tão mau! E foi isso que sempre lhe deu forças! E será que é o que continua a dar? Será por isso mesmo que ela se encontra a olhar o céu, neste preciso momento?
Baixa a cabeça, delicada e calmamente. Olha o horizonte. Luzes, é tudo o que vê! Um arraial de luzes! Em frente e na periferia… A casa do lado também se encontra iluminada. Quem lhe dera estar num lugar isolado... A lua ainda não é vista, mas daqui a pouco aproximar-se-á do seu campo de visão! Está quase, ela sabe disso! Observa-a todas as noites e imagina como ela se apresentará hoje!
Agora, baixa a cabeça, repentinamente. Sente o motor de um carro… Quanto ela prefere estar naquele ambiente sereno ao invés de andar na correria do dia-a-dia, naquele momento! Sente que vale a pena respirar, por poder virar a cabeça, de novo, para o céu! Afinal, o céu é o limite, o Olimpo é o que ela deseja.
Escuridão!
Lembra-se de tantas expressões que já lhe foram ditas ao longo da vida… ao longo das suas horas activas… Mas uma persiste…
Agora, que ela olha para aquela estrela brilhante (a mais brilhante do céu), no meio da escuridão, ela recorda uma expressão (ainda bem que ela decidiu olhar a noite e contemplar as estrelas!)… Todos os momentos valem a pena, até estes (e estes, sobretudo, em alturas como esta); todos os olhares, todos os sorrisos, todos os momentos de silêncio, todos os momentos em que tudo se resume a um abraço, a um beijo.
Só caio em mim quando te abraçar de novo, afinal, todos os momentos que passamos juntos são preciosos… cada vez mais.
E por tudo o que paira na sua mente, por todos os sentimentos que a invadem a esta hora da noite, ela continua a olhar o céu e a contemplar as estrelas… Ainda não vê a lua, mas sabe que ela surgirá, em breve…


quarta-feira, 13 de julho de 2011

A única desvantagem...

A distância torna-se dos meus piores inimigos!”
Há uns dias falaram-lhe de uma montanha… Falaram-lhe daquela montanha – ela apenas pensa numa. Pensa naquela que a espera, dia a pós dia, hora após hora… Ela sabe que a montanha é aquela! A Montanha rasga as nuvens, encosta no sol, sopra na lua, acompanha as estrelas, colabora com as aves, revitaliza a mente dela! Fá-la sentir viva, avisa-a dos obstáculos que ela terá de ultrapassar, ensina-a a crescer, dá razão de ser ao seu viver… E, assim, ela é feliz! 
Ela sabe que a Montanha estará lá para sempre… Ela sabe que, por mais ventos que soprem, por mais água que caia, por mais luz irradiada, por mais noites serradas, a Montanha não sairá de lá! Para além disso, tem a certeza que nada do que for dito no momento em que estiver com ela, naquele puro local, permanecerá lá para sempre e morrerá sem de lá sair! Afinal, ela pode confiar, efectivamente, naquela grandiosidade.  
Ela anseia por tudo aquilo que pode ter, junto àquele ambiente… Anseia por aquela sociedade… Aquela genuína e cristalina sociedade… Tal como eu! Eu cobiço a total liberdade e ambiciono aquela plenitude! E, um dia… Um dia eu vou ser capaz de mostrar tudo o que sinto naquele ambiente sereno…
Sem mentiras ou preconceitos, sem capas ou véus, sem receios ou pensamentos, eu vou voltar a mostrar a importância que um simples olhar, um simples sorriso, um simples acto, um simples momento pode ter na minha presença, na minha postura, na minha convicção… E, no dia em que isso acontecer, ela vai apreciar tudo… De lá do alto, do auge, do patamar de cima, do alpendre, ela vai observar e avaliar o meu comportamento! Porque ela também ouviu, sentiu e apreciou quando ele me disse:
Sabes qual é a única desvantagem de te ter comigo?
A distância torna-se dos meus piores inimigos!”


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Meras palavras...

“Tenho receio de como as coisas possam correr… Não quero que haja precipitação!”
Isso não acontecerá, eu sei bem o que quero… não te quero pessimista, por favor! Queres que te dê provas de algo, é?
“Não preciso de provas absolutamente nenhumas… Eu confio em ti! És importante, como nunca pensei que viesses a ser… E não estou a ser pessimista, estou apenas a tentar ter contenção…”
Os acontecimentos, as ocorrências, as coisas boas e más da vida ocorrem com uma rapidez tal, que se torna impossível travar a meio de uma decisão! A vida pode ser, de facto, cruel e repentina… Pode levar-nos a arrepender de tanta coisa… Pode encaminhar-nos para colinas, pode fazer-nos arrepender do simples facto de acreditarmos em algo que não deveríamos, de pensar que todas as outras pessoas são como acharíamos que seriam, que tudo o que nos dizem é verdade…
A vida faz-nos, muitas vezes, pensar que aquela pessoa é uma pessoa fantástica… E, por isso mesmo, ela dizia tantas vezes que ele era a melhor pessoa que tivera conhecido… Que era a pessoa mais simples, mais misteriosa, mais surpreendente… Agora, ela olha ao espelho e pensa: “Por que vi tão mal? Por que idealizei tanto? Por que ceguei, espontânea e totalmente? Por que sonhei de mais? Por que pensei que seria desta? Porquê que ainda penso que toda a gente diz a verdade? Porquê que ainda penso que toda a gente mostra o que sente, verdadeiramente?”
Ela queria tanto viver no mundo que idealiza… Ela deseja tanta coisa… Ela idealiza uma felicidade plena, um controlo totalmente emocional, um sopro de sentimentos! Dá por ela a imaginar-se, num belo dia de sol, com os olhos bem fechados e relaxados, junto a uma rocha. Nesse momento, um rasgo de vento afasta os seus cabelos, refresca-lhe a mente, rejuvenesce a sua alma… Pensa em tudo e, simultaneamente, não pensa! Surgem-lhe diversas frases na memória, mas apenas uma insiste em permanecer…
“Não imaginas o quão impensável é para mim magoar-te!”
Meras palavras? Ela não precisa delas…


terça-feira, 17 de maio de 2011

Ser, pensar, sentir...

              O tempo passa incomensuravelmente… Quer se trate de um dia, de um mês, de um ano, de uma década… 
              “De que serve? O que é que tem que servir?”
              Prepara-se aquele dia durante meses, espera-se pela sua chegada durante anos e o tempo parece abrandar aquando da aproximação daquela data… Mas tudo isto passa com o mesmo espaçamento… O tempo não passa de algo que é concreto e, simultaneamente, abstracto. Ele é tudo, consegue tudo, conquista tudo, cura tudo, proporciona a maioria dos acontecimentos, controla-se a si próprio!
              Que inveja ela tem dele… Que inveja ela tem do tempo! Queria poder controlar tudo e poder destinar, de antemão, o que fazer durante a sua passagem…
              “Pálido esboço leve”
              Hoje, como que desperta de um sono profundo, fez uma retrospecção aos seus últimos anos, às suas últimas experiências… Encontrava-se sentada numa cadeira que de confortável tinha muito pouco (ela por si só já não se sentia no auge do conforto, consigo mesma!) e ouvia uma pessoa falar constantemente acerca de um tema que de nada lhe importava para aquele tempo. Parou, pousou a caneta que tinha na mão, deixou-se descair na cadeira e abstraiu-se daquele momento que parecia não querer terminar. Tal como Fernando Pessoa dissera, “Cansa ser, (…) pensar destrói.” e ela estava cansada de ser o que tinha de ser naquele momento (manter-se minimamente formal), mas pensar em tudo o que tinha feito até então também a destruía, de certa forma!
              Depois de se deixar descair pela cadeira, colocou a mão em frente à cabeça como se lhe faltasse a força até mesmo para segurar aquela parte do corpo; fechou os olhos e começou a pensar em tudo e de todas as possíveis formas.
              Se chegou a alguma conclusão? Questões, mais questões, mais questões… Foi tudo o que sobrou do pensamento dela…
              “Será que foi tempo perdido? Ou será que foi tudo uma aprendizagem? Será que as pessoas que entraram na minha vida nos últimos anos o fizeram por alguma razão pré-definida? Será que estava predestinado? Teria de ser assim? Serei eu o laboratório dos cientistas ou o palco dos artistas? Será que este pensamento é, também, uma perda de tempo? Será que nada é perda de tempo?”
              “Do sol de inverno sobre meu leito a sorrir...”
              Soltou um suspiro como que a tentar libertar o que a consumia. Era um sentimento inefável… Algo que ela queria explicar mas não conseguia… Algo que ela queria mudar mas sem êxito… Afinal, ela não conseguia tudo o que queria…
              “Então… Que se passa?”, “Isto passa, tudo passa… Obrigada!”
              Levantou a cabeça, recompôs-se na cadeira, pegou de novo a caneta e voltou ao mundo que ela queria evitar, a todo o custo, naquele momento…
              “Vago sussuro breve.”
              “Tempo… Volta atrás e deixa-me reviver o que eu quiser, apagar o que eu desejar, sentir o que eu pretender… Ou, pelo menos, deixa-me acreditar novamente que tudo fazes, que de tudo és capaz… até de apagar o que me magoa…”
              Não cansa apenas ser, não destrói apenas pensar… “Sentir Dói”. 


sábado, 14 de maio de 2011

Visões

Ela olhava pela janela como se o mundo tivesse surgido naquele momento… Encantada com meros montes, meras árvores, meras ventoinhas… Elas moviam-se ao ritmo daquela música; moviam-se como ela se tentara mover dos locais com demasiada entropia para os calmos e serenos.
O sol brilhava (apesar dos ponteiros do relógio já demonstrarem 19:40 horas) e a sua imaginação saltava de terreno em terreno, de ramo em ramo, de pedra em pedra. Nada mais interessava naquele momento; tudo se tornara, súbita e rapidamente, acessório e desmotivante. O sol brilhava mas a lua não estava presente… Escondera-se durante umas horas e era o que ela queria fazer, precisamente, naquele momento. Dava por si a pensar no quão importante e bom seria para ela parar no tempo, já que retroceder se tornara ainda mais impossível (na verdade, a impossibilidade é exactamente a mesma!).
O telemóvel toca e desperta-a para o mundo… Desperta-a e, por momentos, vários pensamentos surgem; pega nele, observa o que diz no visor… “Pai a chamar”.
“Onde estás? Ainda demoras muito, querida?”, “Não paizinho, não te preocupes, às 20 horas já lá devo estar…”, “Então daqui a pouco saio para te ir buscar.”, “Está bem… até já! Beijinho.”
A chamada já tinha sido interrompida e ela fica a olhar para o visor apagado – tal como ela se estava a sentir… Permanece imóvel como se nada importasse. Volta aos seus breves pensamentos que a mantêm viva, erguida, desperta.
O sol continua a brilhar, mas cada vez mais se nota a diminuição do contraste…
Ela continua a desejar parar no tempo, na vida, nos pensamentos que a atormentam. Como queria voltar atrás e impedir que muita coisa acontecesse…
Mas a vida é mesmo assim, não é? Já Saramago afirmava: "Se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar.”
Crescer, florescer, aprender, lidar… Chorar, sorrir… Cair mas levantar…
Porque a visão de hoje pode não ser a mesma da de amanhã…



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Dicotomia, unicidade, pluralidade…

Ela abre a janela como que obrigada a isso… Ela sente que o ar daquele quarto não chega para tudo aquilo que ela necessita de insuflar… Olha o céu e tudo lhe parece único, ideal, novo, inédito! Nada mais existe para ela, naquele preciso momento… A lua não é vista, mas a imensidão do seu poder é sentida por ela. Ela sente-se tal como a lua, pois apesar de acompanhada pelas estrelas necessita da companhia da sua grandiosa fonte de alegria, de luz, de calor.
Fecha a janela… Faz vento lá fora! Tudo o que vê surgira naquele momento, tudo o que sente surgira naquele instante, tudo o que pensou fora original, extravagante, singelo, despretensioso… Um mundo lá fora, um mundo dentro, um mundo dentro de si e, simultaneamente, um buraco negro.
“Como estás, pequenina?”, “Queria muito dizer-te que estou bem, que sou forte, que supero tudo, mas tal não acontece….”
Tudo o que sente é dicotomia de sentimentos, sensações, sentidos… Unicidade de silêncio, escuridão, olhar… Pluralidade de desejos, forças, lágrimas…
“Que se passa contigo? Porquê que estás assim? O que te atormenta?”, “O facto de não andar atormentada até agora, o facto de o desejo se ter tornado em posse, o facto de ter de angariar aquela força…”, “Mas já o tiveste de fazer antes… A vida é mesmo assim…”, “Pois é, o que não me faz sentir melhor…”, “Mas sabes que estarei aqui para tudo?”, “Sei que estás sempre para tudo… Não seria excepção…”
Apaga a luz, sente a escuridão profunda, sente aquele som permanente, aquele murmúrio…
Resta-lhe a imaginação, o sentimento, a mente… Dicotomia, unicidade, pluralidade…